22.9.20

Fabio Morábito (O vento)





El viento, mas
que yo,
se fuma este cigarro
entre mis dedos,
dejándome el placer
de sólo tres o cuatro bocanadas,
y el mar expropia las palabras
que te digo,
porque, acostada, no me oyes.
El sol, el viento y la marea
te ensordecen
y cuando me levanto
para dar dos pasos,
viendo mis huellas que se imprimen
en la arena,
pienso que esas pisadas mienten,
que ya no piso así
desde hace no sé cuándo;
son huellas de otro
que sobrevive en mis pisadas; pues las mías
son mucho menos elocuentes.
Tú, en cambio, que me ves
completo e indivisible,
sabes mejor que nadie cómo soy mortal,
cómo mis huellas en la arena me describen
y cómo se plasma en ellas lo que soy,
sabes mejor que nadie cómo no escucharme.


Fabio Morábito




O vento, mais
do que eu,
fuma este meu cigarro
entre os dedos,
deixando-me o prazer só
de três ou quatro puxadas,
enquanto o mar expropria
as palavras que eu te digo,
pois que, deitada, não me ouves.
O sol, o vento e as ondas
ensurdecem-te,
e quando eu me levanto
para dar dois passos,
vendo as minhas pegadas
marcadas na areia,
penso que elas mentem,
que eu já não piso assim
sei lá desde quando;
são pegadas de outro
que sobrevive no meu pisado,
muito menos eloquente.
Tu, em troca, que me vês
inteiro, indivisível,
sabes melhor que ninguém como eu sou mortal,
como minhas pegadas na areia me descrevem
e como aquilo que eu sou se plasma nelas,
sabes melhor que ninguém como não me escutar.

(Trad. A.M.)



>>  El placard (20p) / A media voz (13p) / Poemas del alma (10p) / Antonio Miranda (8p) / Cervantes (J.C.Abril – A poesia de FM) / Wikipedia