11.10.25

Raquel Lanseros (O homem que espera)

 



O HOMEM QUE ESPERA

 

A colherita triste remexe
uma vez mais a borra do café.
Dez dedos bailam no tampo da mesa do bar
um tango à média luz com o esquecimento.
               Está sozinho, cansado,
               sentado no meio de gente alheia
              que olha para ele sem o ver.
Um anel de ouro gasto pelos anos
é o único traço de brilho que lhe resta.

A paixão rebentou-lhe nas mãos uma vez.
E perdeu a esperança nos abismos
                              de um coração humano.

Não há desventura que lhe fosse alheia,
nem humilhação que lhe seja desconhecida.
É por isso que sabe falar de amor.
Por isso espera.

 

Raquel Lanseros

(Trad. A.M.)

.