OLHA
Olha a velha porta de madeira
pela qual passaste tantas vezes.
Olha a calçada cinzenta que é o teu caminho,
e em que nem reparas ao pisá-la.
Olha ainda as nuvens desta tarde,
as árvores adormecidas do passeio,
os delicados jogos da luz.
Tudo o que acontece para ninguém,
o que é puro abstrair de si mesmo,
como acaso a vida.
Olha por uma vez estas coisas obscuras,
que hão-de perder-se quando as não olhares,
que não serão recordações.
José Cereijo
(Trad. A.M.).