20.4.20

Raquel Lanseros (Debaixo da raiz)





BAJO LA RAIZ



Una tarde de sol, dentro de varios siglos,
una mujer morena como yo
se tumbará tal vez a descansar
sobre esta misma tierra
donde una vez estuvo la casa de mis padres.

La mujer del futuro extenderá los muslos
mientras observa en calma el viaje de las nubes.
Será feliz, casi seguramente
el mundo en torno le parecerá
subordinado, a salvo.
Tan suyo, sobre todo.
Sí, sólo suyo, y considerará
que el verano y el sol le pertenecen.

Entonces ya hará años que no está
la casa de mis padres,
ni tampoco la huella
de haber estado nunca.

La tarde avanzará, apacible y serena.
La mujer jugará a arrancar hierbecillas
del mismo suelo donde pasé mi infancia.
Cantará, compondrá una guirnalda,
mirará al cielo, se quedará pensando…

La contemplo quién sabe desde dónde.
Y no sabría decir
si soy yo quien la mira
o bien otra mujer desde el pasado
es quien de pronto me está mirando a mí.


Raquel Lanseros




Uma tarde de sol, daqui a vários séculos,
uma mulher como eu morena
deitada talvez a descansar
nesta terra onde era uma vez
a casa de meus pais.

Essa mulher do futuro esticará as coxas
contemplando no céu a viagem das nuvens.
Será feliz, de certeza
o mundo em volta há-de parecer-lhe
subordinado, a salvo.
Tão seu, acima de tudo.
Sim, seu apenas, e o verão e o sol
julgará que lhe pertencem.

Então não haverá, de anos e anos,
a casa de meus pais,
nem marca sequer
de um dia ter existido.

A tarde avançará, amena e tranquila.
E a mulher há-de baixar-se, a arrancar
umas ervas do mesmo chão onde eu passei a infância.
Há-de cantar, compor uma grinalda,
olhará o céu, e ficará a pensar…

Contemplo-a, nem eu sei donde.
E tão pouco sei dizer
se sou eu mesmo quem a olha
ou se é outra mulher lá do passado
que de repente me está olhando a mim.


(Trad. A.M.)

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