O SONHO DAS PALAVRAS
Vêm-me de muito longe as palavras
que alguém me sussurra cada noite
a meia voz quando tudo repousa
e tem um ar de quietude
que pode converter-se em ameaça
se baixarmos a guarda.
Afaga-me
a música pacífica que trazem
no alforje, o calor, o timbre,
mas não consigo entender o que me dizem,
se deveras me indicam um caminho
ou são alguns restos de areia
que trago no calçado uma vez
feita a travessia do deserto
e cumprido o tempo da vida.
Chegam ao pé de mim
em ondas cada vez mais ténues.
Esforço-me por percebê-las, com medo
que o vento do silêncio as leve
na sua frente e me despoje de tudo,
os últimos restos deste sonho,
o murmúrio de água que me derramam
na alma, sua frágil transparência,
a humidade infinita que me deixam
na pele, a esperança de entendê-las.
ALFREDO BUXÁN
Las Palabras Perdidas
(Poesía 1989-2008)
Bartleby Editores (2011)
(Trad. A.M.)
.