3.11.15
Miriam Reyes (Não tenho casa a que voltar)
No tengo casa a la que volver
ni esperanza de la que colgarme
por eso camino.
Las casas se derrumban a mi paso
la tierra es una alfombra de escombros.
Me detengo a admirar la belleza de las palas mecánicas
los movimientos de las excavadoras me erizan de deseo.
De noche las contemplo:
los perfiles inmóviles de las palas
descansando sobre el cielo azul cobalto
al lado de la luna de luz nacarada
son aún más hermosos que los brazos de los hombres que las manipulan
y las excavadoras
con sus enormes bocas abiertas y llenas todavía
de tierra y escombros
parecen enormes animales muertos.
Mis padres me enseñaron a no tener nunca nada.
Ellos me enseñaron a no volver nunca a casa
a no decir nunca esta casa es mía
aquí me quedo yo
en este lugar que amo.
Cierro la puerta y no necesito mirar atrás para saber
que la casa ya no existe más.
En ninguna parte sin hablar con nadie estoy
pero si nos cruzamos
puedo enseñarte a caminar sonriente sobre la desolación.
Miriam Reyes
[La mirada del lobo]
Não tenho casa a que voltar
nem esperança a que me agarre
nesse caminho.
As casas ruem quando eu passo
a terra é uma carpete de escombros.
Detenho-me a admirar a beleza das pás mecânicas
os movimentos das escavadoras eriçam-me de desejo.
Contemplo-as à noite:
Os perfis imóveis das pás
descansando sobre o céu azul cobalto
ao lado da lua de luz nacarada
são mais belos ainda que os braços dos homens que as operam
e as escavadoras
com suas enormes bocas abertas e cheias ainda
de terra e escombros
parecem enormes animais mortos.
Meus pais ensinaram-me a nunca ter nada.
Ensinaram-me a nunca voltar a casa
a não dizer nunca esta casa é minha
aqui me fico
neste lugar que amo.
Cerro a porta e não preciso olhar para trás
para saber que a casa já não existe.
Estou em nenhum lado e sem falar com ninguém
mas se nós nos cruzarmos
posso ensinar-te a caminhar sorridente sobre a desolação.
(Trad. A.M.)
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