3.3.18

Carlos de Oliveira (O ruivo)






(O ruivo)


Quando estiou, partiram.

Anoitecera já de todo.

O ruivo tinha acendido a lanterna da charrete e o clarão batia na lombeira da égua lustrosa de suor e chuva.

O perfil do cocheiro arrancava-o da sombra a luz amarelada: o queixo espesso, o nariz correcto, a fronte não muito ampla mas firme.

De encontro à noite, parecia uma moeda de oiro.

O moço ia hirto, de olhos postos no caminho escalavrado que a lanterna abria a custo, e a tensão (a atenção) dava-lhe um rigor enérgico aos tendões do pescoço que o blusão de bombazina deixava a descoberto.

Ela fitava-o e não resistia à tentação de um paralelo com o homem mole e silencioso que levava ao lado. (IV)



CARLOS DE OLIVEIRA
Uma Abelha na Chuva
(1953)


.