PORTUGAL DENTRO DAS CASCAS
Antes íamos às árvores da cerca além do claustro
tratar das asas que lhes sonhávamos ao corpo
Primeiro a nau velas altas uma casa de sobrado
Depois as santas imagens de pau de cerejeira
Era um Portugal imenso que nem cabia nas cascas
a entrar pelos robles e pinhos de Alcácer
Desenhava-se um mapa e era toda uma serra
O rio Tejo adormecia do voo dele e alheio
Foi impossível um
dia escrever mais nos lenhos
Começavam a soletrar-se bancos ou mesas das tábuas
e às vezes janelas ornadas que depois se via
serem grades de ferro postigos só de
nuvens
A cerca fechou-se Nem
nela havia árvores
com que sonhar velhas coisas: memórias
só que eram
Ficaram as oitavas rimas e Camões nadando
Hoje Portugal seu traço cabe
numa acha
Alexandre Pinheiro Torres
