18.6.25
Auto-diálogo (CA-8)
16.6.25
Roberto Malatesta (A força do não fazer)
LA FUERZA DEL NO HACER
No hacer nada requiere fortaleza,
los débiles sucumben sin trabajo,
lo inventan si escasea, no pueden con el ocio.
Por el contrario el que no hace nada resiste
todas las tentaciones que atañen al trabajo.
Entonces es llevado al borde del barranco
tal como Cristo: arrójate, tómalo todo, adórame.
Y en su desierto del no hacer
persiste adusto y pobre,
cultiva la gran fuerza del que sabe
uál es su sitio y su destino entre los hombres.
No hacer nada requiere fortaleza,
su origen es el don y a su conocimiento
sólo acceden aquellos para el cual son llamados.
Roberto Malatesta
Não fazer nada requer fortaleza,
os fracos sucumbem sem trabalho,
inventam-no se escasseia, não suportam o ócio.
Pelo contrário, quem não faz nada resiste
a todas as tentações que respeitam ao trabalho.
Vai então, levado à beira do abismo,
tal como Cristo: atira-te, toma tudo, adora-me.
E no seu deserto de não fazer
mantém-se adusto e pobre,
cultiva a grande força de quem sabe
qual é o seu lugar e seu destino na terra.
Não fazer nada requer fortaleza,
a sua origem é uma bênção e só os escolhidos
lhe acedem ao conhecimento.
>> Noticias (20p) / Marcelo Leites (17p) / La Pecera (5p)
.
15.6.25
Óscar Alonso Pardo (Testamento)
TESTAMENTO
Si alguna vez el alzheimer
se apodera de mis recuerdos
decidme que viajé a lugares remotos
en busca de tesoros escondidos
que me acosté con las mujeres más hermosas
que escribí los versos más bonitos
que jamás se escribieron
que tuve muchos amigos
y una familia que me quiso.
Decidme todo eso
aunque sea mentira.
Si alguna vez
no recuerdo mi nombre
decidme que fui
un hombre feliz.
Óscar Alonso Pardo
Se o alzheimer algum dia
se apossar das minhas lembranças
dizei-me que viajei para remotos lugares
buscando tesouros ocultos
que me deitei com as mulheres mais belas
que escrevi os versos mais lindos
que jamais foram escritos
que tive muitos amigos
e uma família que me amou.
Dizei-me isso tudo
mesmo que seja mentira.
Se algum dia
eu não lembrar o meu nome
dizei-me que eu fui
um homem feliz.
(Trad. A.M.)
13.6.25
Owen Bullock (Melhor não fazer nada)
better
to do nothing
than to interfere . . .
a butterfly flutters
through the borage
Owen Bullock
melhor
não fazer nada
do que interferir…
uma borboleta esvoaça
pelo meio da borragem
(Trad. FJCC)
.
11.6.25
Mario Miguez (Surpresa)
SORPRESA
Nunca debes buscar palabras raras
para crear sorpresa.
Es justo lo contrario:
lograr que unas palabras ya muy viejas
y en ti sencillas, claras, renovadas,
de pronto, en el poema, nos sorprendan.
Mario Míguez
[Autorretrato en espejo convexo]
Não busques nunca palavras estranhas
para criar surpresa.
É justamente o contrário,
fazer que algumas palavras mais antigas,
por si simples, claras, renovadas,
de repente, no poema, nos surpreendam.
(Trad. A.M.)
10.6.25
Mario Benedetti (Quando éramos pequenos)
CUANDO
ÉRAMOS NIÑOS
Cuando
éramos niños
los
viejos tenían como treinta
un
charco era un océano
la
muerte lisa y llana
no
existía.
Luego
cuando muchachos
los
viejos eran gente de cuarenta
un
estanque era un océano
la
muerte solamente
una
palabra.
Ya cuando
nos casamos
los
ancianos estaban en los cincuenta
un lago
era un océano
la
muerte era la muerte
de los
otros.
Ahora
veteranos
ya le
dimos alcance a la verdad
el
océano es por fin el océano
pero la
muerte empieza a ser
la
nuestra.
Mario Benedetti
Quando éramos pequenos
os velhos tinham à roda de trinta anos
um charco era um oceano
a morte chã e lisa
não existia.
Depois, em rapazes,
os velhos eram pessoas de quarenta,
um tanque era um oceano,
a morte somente
uma palavra.
Já quando nos casámos,
os anciãos estavam nos cinquenta,
um lago era um oceano,
a morte era a morte
dos outros.
Agora veteranos,
alcançamos por fim a verdade,
o oceano é enfim o oceano
e a morte começa a ser
a nossa.
(Trad. A.M.)
8.6.25
Rui Caeiro (Fica e é só o que fica)
Fica e é só o que fica: o primeiro encontro
o primeiro beijo numa gare deserta
o mar por líquida ou aérea testemunha
depois a longa gestação do adeus
único e verdadeiro adeus
o subtil envenenamento da memória
Rui Caeiro
6.6.25
Marilyn Contardi (Antecipação)
ANTECIPAÇÃO
Quem olhará estes céus
cor de rosa
quando eu já os não
vir?
Quem assomará à janela
a cheirar os jasmins
em flor?
Passam invernos e
primaveras,
um dia entre outros
há-de trazer a morte.
Quando chegar o
momento,
quem me fitará com olhos
bondosos
e me dará a mão
enquanto eu me afasto?
Marilyn Contardi
(Trad. A.M.)
5.6.25
Mariano Peyrou (Convivência)
CONVIVENCIA
Parecen más, pero sólo
son doce meses. En enero
nos miramos un rato: un laberinto no para salir.
En enero te espero / como cada febrero,
le escribí a la amiga que me escribe,
y febrero sube y baja, baja
y sube, da luz a una esperanza y la
inestabilidad nace en seguida, cuando
llega marzo, cuando miramos atrás
suponiendo y creyendo que ya ha pasado algo:
la ilusión de que lo insignificante
significa, todo
parece inflado como el tiempo.
En abril nos miramos
un rato, miramos lo que pide
no ser visto, vemos lo que no queríamos
mirar. Pasan las encinas y los verdes del campo,
lo lejos-cerca de mirar el campo desde un
tren, porque se mueve, o desde un collado,
porque está alto. Mayo vuela hacia afuera
y me propone mi mejor autorretrato:
melancólico y risueño. Vuelo hacia
mayo, mayo vuela hacia ti, tú
miras. Dos más dos son
junio, seis por tres son junio, logaritmo
en base junio y no quiero ni sé
seguir, pero se trata de seguir, la esperanza
con su aritmética sexy. Ahora
nos fijamos en un detalle mínimo
que marca la diferencia entre lo igual
y lo diferente, o que los iguala: julio
cae con su invierno y asciende
con su asombro, mi asombro, tu
desilusión. Julio acaricia y rasca.
Julio olvida, tiembla con su siempre-nunca
y su agosto, cuando te suelto, me
sueltas, y así podemos soltándonos retroceder
hasta septiembre. Septiembre, lleno
de meses, de años, cuenta
los meses hacia atrás, cuenta
los años hacia adentro. La marea
de octubre trae de todo: un zapato
de antes de que se inventara el pie, un
beso de antes de que se inventara la memoria,
una red, una botella llena de mar y de octubre.
Paseo por la orilla de octubre metiendo
los pies en la red a ver qué pasa. No
quiero pedir ayuda y no sabría.
Amargado y cobarde es ahora
mi mejor autorretrato, renovado en
noviembre, y ahora toca morir en secreto: todos
sabemos hacerlo, sabemos también nacer
de nuevo preparándonos para el final,
esquivar el final y mirarnos otro rato soñando
con lo que vemos y se acerca lejos.
Mariano Peyrou
Parecem mais, mas são
só doze meses. Em Janeiro
observamo-nos um bocado: um labirinto não para sair.
Em Janeiro te espero/ como todo Fevereiro,
escrevi eu a uma amiga que me escreve,
e Fevereiro sobe e desce, Desce
e sobe, dá luz a uma esperança e a
instabilidade nasce depois, quando
chega Março, quando olhamos para trás
supondo e acreditando que algo sucedeu,
a ilusão de que o insignificante significa, tudo
parece inchado como o tempo.
Em Abril observamo-nos
um bocado, observamos o que pede
para não ser visto, vemos aquilo que não queríamos
observar. Passam as azinheiras e os verdes do campo,
o longe-perto de observar o campo de um comboio,
porque se move, ou de um outeiro, porque está alto.
Maio voa para fora e propõe-me meu melhor auto-retrato:
melancólico e risonho. Voo para
Maio, Maio voa para ti, tu
observas. Dois mais dois são
Junho, seis por três são Junho, logaritmo
em base Junho e não quero nem sei
continuar, mas trata-se de continuar, a esperança
com sua aritmética sexy. Agora
atentamos num detalhe mínimo
que marca a diferença entre o igual
e o diferente, o que os iguala: Julho
cai com seu inverno e ascende
com seu assombro, meu assombro, tua
desilusão. Julho afaga e arranha.
Julho olvida, estremece com seu sempre-nunca
e seu Agosto, quando te solto, tu
soltas-me, e assim podemos soltando-nos retroceder
até Setembro. Setembro, cheio
de meses, de anos, conta
os anos para dentro. A maré
de Outubro traz de tudo; um sapato
de antes da invenção do pé, um
beijo de antes da invenção da memória,
uma rede, uma garrafa cheia de mar e de Outubro.
Passeio pela beira de Outubro, metendo
os pés na rede, a ver o que acontece. Não
quero pedir ajuda, nem saberia.
Amargurado e cobarde é agora
meu melhor suto-retrato, renovado em
Novembro e agora vá de morrer em segredo: todos
sabemos fazê-lo. Sabemos também nascer
de novo preparando-nos para o final,
fugir ao final e observar-nos mais um bocado
sonhando com o que vemos e se aproxima ao longe.
(Trad. A.M.)
3.6.25
Owen Bullock (Ao passar a esquadra)
passing the police station
I feel my immaturity
is criminal
yet there’s nothing
to turn myself in for
Owen Bullock
ao passar a esquadra
acho que a minha imaturidade
é criminosa
não há contudo razão nenhuma
para me entregar
(Trad. FJCC)
1.6.25
Mariana Finochietto (Devia estar triste)
Debería estar triste.
Debería
tener mi corazón apertadito
como cuando se es joven
y duele.
Debería
extrañarte y salir a la calle
cubierta por el manto gris de la melancolia
y no mirar a otros hombres
para sólo pensarte,
porque se es fiel a la ausencia de quien se ama.
Porque te amo, en fin,
y te abandono
sin arrojarme del acantilado de tu nombre.
Te abandono
con todo el amor con que te quise
porque en toda buena historia es conveniente
saber cuándo poner el punto de todos los finales.
Mariana Finochietto
Devia estar triste,
devia
ter o coração apertadinho
como quando se é jovem
e sofre.
Devia
sentir-te a falta e sair à rua
coberta pelo manto cinza da melancolia,
não olhar para outros
e pensar só em ti,
por ser fiel à ausência de quem se ama.
Porque te amo, enfim,
e te abandono
sem me atirar da falésia de teu nome.
Abandono-te
com todo o amor com que te quis
porque em qualquer história convém
saber quando pôr o ponto de todos os finais.
(Trad. A.M.)