31.7.24

Manuel Moya (Loa a Portugal)

 



LOA A PORTUGAL 

 

Dichosos los pueblos que aguardan aún el mediodía,
los que aún aran sus campos y muelen su centeno
y el pan recién cocido reparten en su mesa.
Dichosos los pueblos que zurcen el mar ola por ola
los que han hecho del mar su casa y su gobierno,
los que al acercarse al mar, le siguen ofrendando
frescas flores bermejas.
 

Manuel Moya 

 

Ditosos os povos que aguardam ainda o meio-dia,
os que ainda lavram seus campos e moem seu centeio
e o pão fresco repartem em sua mesa.
Ditosos os povos que cosem o mar onda por onda,
os que fizeram do mar sua casa e seu governo,
os que ao abeirar-se do mar, continuam a ofertar-lhe
frescas flores vermelhas.
 

(Trad. A.M.)


.

29.7.24

Luís Palma Gomes (Humanos)




HUMANOS

 

Afinal somos filhos do erro sublime
e da máquina resplandecente.

Sábios e dementes.

Em mistério, entramos, vida a vida, rio adentro.

Casualmente, perguntamos pelo milagre do inicio
e pelo castigo do fim.

Nada.

A mais pequena coisa
impele-nos a este caminho surdo ou mudo.
E neste silêncio, os mais capazes contemplam apenas.

 

LUÍS PALMA GOMES
Fronteira
(2022)

.

27.7.24

Vicente García (Sobre um tema de Moreno Villa)




SOBRE UN TEMA DE MORENO VILLA

 

Quizá porque termine nuestro mundo,
quizá porque perdimos
una oportunidad en otro tiempo,
nos llegará la hora del olvido.

Escribimos palabras en la arena.

Nos llevarán las olas, y también
irán borrando todas las palabras.


Vicente García

 

Talvez porque nosso mundo se acabe,
talvez porque perdemos
uma oportunidade em tempos,
há-de chegar-nos a hora do olvido.

Escrevemos palavras na areia.

As ondas nos levarão, e apagarão
também as palavras todas.


(Trad. A.M.)

.

26.7.24

Teresa Gómez (Mas não te quis)




MAS NÃO TE QUIS 

 

Para ti nada mais
eu pus meus xailes e jóias
e palavras e gemidos compus,
para ti nada mais. 

Para te ter preso à minha ilharga
eu trouxe açucenas dos cumes
e conchas brancas do abismo,
para te ter preso. 

Mas não te quis, 
meu amor, eu não te quis.
 

Teresa Gómez 

(Trad. A.M.)

 .


24.7.24

Rui Caeiro (Espero um dia)






Espero um dia ter de esperar-te, com a ansiedade
dos que perderam tudo ou quase, menos talvez a memória
E espero humildemente vir a merecer-te, cometer um acto heróico
e merecer-te, ser outra e a mesma pessoa – e merecer-te
Espero estar bem triste para quando enfim chegares
poder dar-te o mais autêntico: a memória, a tristeza
Espero a grande disponibilidade de poder esperar à vontade
quero o espaço, todo o espaço – e muita falta de ar
Espero a paciência de adivinhar-te e a sufocação de ver-te
ou a graça de poder continuar à espera – indefinidamente
Espero, ardentemente espero que o tempo passe e a morte não exista
e eu apenas à tua espera rodeado de livros, sem perceber nada
Espero, já agora, que no final, como quem completa um puzzle
afinal mais simples do que parecia, tu simplesmente venhas

Rui Caeiro

.

22.7.24

Raquel Lanseros (Aritmética)




ARITMÉTICA

 

O que eu quero que seja
o que é
o que podia ter sido
o que nunca será
o que foi e o que era
o que podia ser
o que hei-de querer um dia que tenha sido
o que quis que fosse
o que apesar de mim se obstina em ser
o que sempre sonhei que fosse um dia

As contas estão certas,
eu sou o resultado.


Raquel Lanseros

(Trad. A.M.)

.

21.7.24

Carlos Martínez Aguirre (Mar de açafrão)




MAR DE AZAFRÁN

 

La luz se duerme sobre lo que existe
insensible al transcurso de las horas.
Una gota de azul entre tus ojos,
un corazón desenredó mis años.
El tiempo se confunde: no distingue
el trigo de un puñado de naranjas,
y todos somos puertas en la vida
ávidos de encerrar la primavera.
Pero hay campos de nardos en tus senos,
hay mosto entre tus labios, hay espigas
copiadas sobre el oro de tus piernas,
hay un mar de azafrán, hay esmeraldas
prendidas de tu pelo, hay la bandera
victoriosa en los campos de tu cuerpo.

 

Carlos Martínez Aguirre

 

 

A luz adormece sobre o que existe,
insensível à passagem das horas.
Uma gota de azul entre teus olhos,
um coração que me desenredou os anos.
O tempo confunde-se, não distingue
o trigo de um punhado de laranjas,
e todos nós somos portas na vida,
ávidos por encerrar a primavera.
Mas há campos de nardos em teus seios,
há mosto nos teus lábios, há espigas
copiadas sobre o ouro de tuas pernas,
há um mar de açafrão, há esmeraldas
presa no teu cabelo, há a bandeira
da vitória nos campos de teu corpo.


(Trad. A.M.)

.


19.7.24

Luís Palma Gomes (A origem)



A ORIGEM

 

Nada do que escreves é teu.

Tudo se afasta e retorna
como o som ofegante
de quem respira cansado
de fugir.

Se ainda não sabes ao certo
de onde te chegam as palavras,
abriga-te, então.

Vais ter de esperar
para saber se vais ou vens
da nascente.

 

LUÍS PALMA GOMES
Fronteira
(2022)



>>  Luis Palma Gomes (sítio) / Árvore com voz (blogue)

.

17.7.24

Pepe Ramos (A ordem das nuvens)




EL ORDEN DE LAS NUBES 

 

No hay un orden en las nubes.
Se generan de un modo azaroso,
se juntan o se separan
según soplen los vientos. 

A veces forman siluetas curiosas
o crean un espectáculo admirable
en función de la luz que reciben.

Los expertos las clasifican por formas
y predicen su comportamiento
sin demasiada precisión.
Unas se quedan donde nacieron
y otras viajan miles de kilómetros. 

Algunas provocan tempestades
o violentas inundaciones
mientras otras caen suavemente,
pero todas permanecen en la flor,
el arroyo, el trigal o el bosque
cuando ya nadie recuerda su forma. 

Con las personas pasa lo mismo.

 
PEPE RAMOS
El cielo de las cajeras
(2023) 

 

Não há qualquer ordem nas nuvens,
formam-se de modo acidental,
juntam-se ou separam-se
conforme sopram os ventos. 

Às vezes fazem silhuetas curiosas 
ou criam um espectáculo admirável 
em função da luz que recebem. 

Os especialistas classificam-nas por formas
e predizem-lhes o comportamento,
aliás sem grande precisão. 
Umas permanecem onde nascem,
outras viajam milhares de quilómetros.

Algumas provocam tempestades
ou violentas inundações,
enquanto outras caem suavemente,
mas todas permanecem na flor,
no corgo, trigal ou bosque,
quando ninguém recorda já a sua forma. 

Com as pessoas acontece o mesmo.
 

(Trad. A.M.)

 .

16.7.24

José Cereijo (Pensa no que darias)




Piensa lo que darías
cuando se esté acabando
el tiempo, y sólo queden ya los posos
amargos en el vaso,
por estas horas, y por estos días,
que ahora ves pasar, indiferente.
Piénsalo,
y trata de vivir tal como entonces
querrás haber vivido;
que sea lo amargo, si tiene que serlo,
el vaso, no la boca. 

JOSÉ CEREIJO
La Luz Pensativa
Pre-Textos (2021) 

 

Pensa no que darias
quando se estiver a acabar
o tempo, e ficarem só as borras
amargas no copo,
destas horas, destes dias,
que agora vês passar, indiferente.
Pensa,
e trata de viver tal como então
hás-de querer ter vivido;
que o amargo seja, se tiver de ser,
copo, não a boca.
 

(Trad. A.M.)

 .

14.7.24

Ana Hatherly (Os livros)




Os livros estão sempre sós.
Como nós.
Sofrem o terrível impacto do presente.
Como nós.
Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar.
Como nós.
Calam sua fúria com sua farsa.
Como nós.
Têm fachadas lisas ou não.
Como nós.
Formosas, delirantes, horrorosas.
Como nós.
Estão ali sendo entretanto.
Como nós.
No limiar do esquecimento.
Como nós.
Cheios de submissão ao serviço do impossível.
Como nós.


Ana Hatherly

[1.º esquerdo]

 .

12.7.24

Fernando Beltrán (Vozes do extremo)




VOCES DEL EXTREMO

 

En esta punta umbría de la edad
que ya tenemos todos (casi todos, al menos)
me sorprende de pronto encontrar conchas
que a veces tienen forma simplemente de concha
pero a veces de orejas aplastadas
retejando la arena, poniendo su oído en tierra,
como oyendo pisadas a lo lejos
que se acercaran lentas,

y soy yo, o era quien se acerca

a una playa del sur donde amé y fui amado
por las diosas más altas de la noche,
por las diosas más hartas de que las llamen diosas,
las rebeldes, las rotas, las de puño invencible
y hacha en verso, las de armadura dulce,

las de extremo sentir, y extremo ahogarse

en los labios salados de aquel beso
en esta playa al sur, treinta años después,
donde siguen las huellas de gaviota
jugando al tres en raya con sus flechas
señalando quizá nuestro futuro incierto
en esta punta umbría de la edad
que ya tenemos todos.

Punta cruel. Punta extraña. Punta viva.


Fernando Beltrán

[Voces del extremo]

 

 

Nesta ponta sombria da idade
que temos já todos nós (ao menos, quase todos)
admira-me de repente achar conchas 
que têm às vezes forma simples de concha 
mas outras vezes parecem orelhas esmagadas
recobrindo a areia, pondo o ouvido no chão,
como que a ouvir passos ao longe,
aproximando-se lentamente,

e sou eu, ou era, quem se aproxima

de uma praia do sul, onde amei e fui amado
pelas deusas mais altas da noite,
pelas deusas mais cheias de que as chamem deusas,
as rebeldes, exaustas, de punho invencível
e machado em verso, as de terna armadura,

as de sentimento, afogando-se

nos lábios salgados daquele beijo
nesta praia a sul, trinta anos depois,
onde persistem as marcas de gaivotas
brincando ao três em linha,
assinalando talvez o nosso futuro incerto
nesta ponta sombria da idade
que temos já todos nós.

Ponta cruel.
Ponta estranha.
Ponta viva.


(Trad. A.M.)

.

11.7.24

Jaime Sabines (Minha vida reparti-a)


 


He repartido mi vida inútilmente entre el amor y el deseo, la queja
de la muerte, el lamento de la soledad. Me aparté de los pensamentos
profundos, y he agredido a mi cuerpo con los excesos y he ofendido a
mi alma con la negación. 

Me he sentido culpable de derrochar la vida y no he querido quedarme
en casa a atesorarla. Tuve miedo del fuego y me incineré. Amaba las
páginas de un libro y corría a la calle a aturdirme. Todo ha sido
superficial y vacío. No tuve odio sino amargura, nunca rencor sino
desencanto. Lo esperé todo de los hombres y todo lo obtuve. Sólo de mí
no he sacado nada: en esto me parezco a las tumbas. 

¿Pude haber vivido de otro modo? Si pudiera recomenzar, ¿lo haría?


Jaime Sabines

 

 

Minha vida reparti-a inutilmente entre o amor e o desejo, a queixa
da morte, o lamento da solidão. Apartei-me de pensamentos
profundos, castiguei o corpo com excessos, ofendi
a alma com a negação.

Senti-me culpado de malbaratar a vida, não quis ficar
em casa a poupá-la. Tive medo do fogo, ardi em cinzas. Amava
as páginas de um livro e corria a aturdir-me na rua. Tudo
superficial e vazio. Não tive ódio mas amargura, rancor nunca mas
desencanto. Esperei tudo dos homens e tudo tive. Só de mim
não tirei nada, nisso pareço um sepulcro.

Podia ter vivido de outro modo? E se pudesse recomeçar, fá-lo-ia?


(Trad. A.M.)

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9.7.24

Vasco Graça Moura (Ofício de morrer)




OFÍCIO DE MORRER 

 

eu imagino assim a morte de pavese:
era um quarto de hotel em turim,
decerto um hotel modesto, de uma ou duas
estrelas, se é que havia estrelas.  

uma cama de pau, de verniz estalado,
rangendo de encontros fortuitos, um colchão mole e húmido
com a cova no meio, a do costume.
corria o mês de agosto com sua terra escura 

encardindo as cortinas. nada ia explodir
naquele mês de agosto àquela hora da tarde
de luz adocicada. e alguém pusera
três rosas de plástico num solitário verde.  

vejo como pavese entrou, como pousou a maleta
com indiferença, dobrou alguns papéis
e despiu o casaco (como nos filmes
italianos da época). depois foi aos lavabos  

no corredor, ao fundo. talvez tenha pensado
que esta vida é uma mijadela ou que.
voltou ao quarto, havia
uma fétida alma em tudo aquilo. 

ele abriu a janela
e pediu a chamada telefónica.
a noite ia caindo sem palavras, mesmo sem buzinas
excessivas. encheu um copo de água. e esperou.  

quando a campainha tocou, havia muito pouco
a dizer e ele já o tinha dito:
já tinha dito quanto amar nos torna
vulneráveis; e míseros, inermes;  

que é precisa humildade, não orgulho;
e parar de escrever;
e que dessa nudez é que morremos.
foi mais ou menos isto – a nossa condição 

demasiado humana, a voz humana, a frágil
expressão disso tudo, uma firmeza tensa.
«e até rapariguinhas o fizeram».
tinham nomes obscuros e nenhum  

remorso lancinante, ninguém pra falar delas.
a mais temida coisa é a coragem
do que parecia fácil: tudo o que não se disse
carregado num acto de súbitas fronteiras.  

foi mais ou menos isto. não sei se ele a seguir
pôs do lado de fora um letreiro
com ‘do not disturb’ ou coisa assim
nem se tomou as pastilhas uma a uma, ou se as contou.  

não sei se o encontrou uma criada,
se a polícia veio logo, se deixou uma carta
ao seu melhor amigo, se apagou a luz,
nem se pousou ao lado a carteira, o relógio, a esferográfica.  

não sei se entrou na morte como quem
traz imagens pungentes na cabeça,
palavras marteladas de desejo, ou como quem friamente
está no avesso do sono e vai calar-se e é justo.  

não sei se foi assim, se existe uma outra
verdade imaginável ou vedada. sei que ele tinha
um olhar decidido, alguma instigadora, e quarenta e dois anos,
e sei que nessa altura há já poucas verdades  

e nenhuma dimensão biográfica na morte.
já vem nas escrituras. eu prefiro
dizer que ele fechou a porta à chave
e sei que era viril a sua transparência.
 

Vasco Graça Moura

 .

7.7.24

Vicente Muñoz Álvarez (Trégua)




TREGUA

 

A veces,
justo en medio
de la desesperación y el caos,
cuando todo parece perdido,
la vida nos concede
una pequeña tregua:

la clave de un poema,
los preparativos de un viaje,
la llamada de un amigo,
la magia de un atardecer.

Días de luz en los que,
sin saber por qué,
se declara el alto el fuego,
y todo parece
fluir de nuevo en tu interior.

Aunque en el fondo,
en lo profundo,
se siga escuchando
el fragor de la lucha.


Vicente Muñoz Álvarez

 

Às vezes,
no meio mesmo
do desespero e do caos,
quando tudo parece perdido,
a vida dá-nos
uma pequena trégua:

A chave de um poema,
os preparativos duma viagem,
a chamada de um amigo,
a magia de um poente.

Dias de luz em que,
sem saber a razão,
se declara o cessar-fogo,
e tudo parece
fluir de novo dentro de ti.

Ainda que no fundo,
lá bem no fundo,
se escute ainda
o fragor da luta.


(Trad. A.M.)

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6.7.24

Valeria Pariso (Quem tem a chave)




¿Quién tiene
la llave de la celda
que está adentro de tu mano? 
 

 Valeria Pariso



Quem tem
a chave da cela
que está na tua mão?



(Trad. A.M.)

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4.7.24

Sandro Penna (Todo azul o mar)




Il mare è tutto azzurro.
Il mare è tutto calmo.
Nel cuore è quasi un urlo 
di gioia. E tutto è calmo.

Sandro Penna



Todo azul o mar,
calmo de todo.
No peito quase um grito
de alegria. E calmo tudo.

(Trad. A.M.)

 .

2.7.24

Rocío Wittib (Tivemos medo)




tuvimos miedo y cruzamos la vía con los ojos cerrados
quisimos creer que no teníamos nada que perder
porque nada teníamos para darnos
mentimos lo suficiente hasta crear una verdad
y tampoco fuimos capaces de creerla
nadie dijo que debajo de las palabras había cuchillos
y nos nacieron heridas dentro del silencio
ni nos arrepentimos ni pedimos perdón
muchas veces nos cansamos de esperar de huir
de tener que olvidar que no estamos a salvo
pero del deseo no se aprende la valentía
sino la sed la urgencia el hambre
yo siempre seré una cima trepando por tus pies
tú la intemperie creciendo sobre mi corazón
vivir tan solo la forma correcta de equivocarse
 

Rocío Wittib

  

tivemos medo e atravessámos a via de olhos fechados
quisemos crer que não tínhamos nada a perder
porque nada tínhamos para nos dar
mentimos o bastante para criar uma verdade
e não fomos capazes de crê-la
ninguém avisou que havia punhais por baixo das palavras
e nasceram-nos feridas por dentro do silêncio
não nos arrependemos nem pedimos perdão
muita vez nos cansámos de esperar de fugir
de ter de esquecer que não estamos a salvo
mas do desejo não se aprende a coragem
só a sede  a fome a urgência
eu serei sempre um cume trepando por teus pés
tu a tempestade caindo-me no coração
e viver tão só a forma correcta de enganar-se
 

(Trad. A.M.)

 .

1.7.24

Teresa Gómez (A estranha)




LA ESTRAÑA

 

¿Quién eres tú, enemiga,
que despiertas en mí al llegar la mañana,
me acechas abatida
con mis gélidos ojos y besas con mi boca? 

¿Y por qué me acaricias
tan delicadamente, y te alejas
y vuelves,
riendo con mis propias
carcajadas de hielo para la soledad
que, firme, me embarranca
como a un buque fantasma varado en el desierto? 

¿Quién hay tras el espejo
por donde trepa el miedo y la rara esperanza
en la tela de araña,
frágil y luminosa, que tejen mis recuerdos? 

¿Quién eres tú, oh diosa,
que dentro de mí creces
y duermes
y me sueñas?


Teresa Gómez                                         

[Círculo de poesia]



Quem és tu, inimiga,
que despertas em mim ao chegar a manhã.
me espreitas abatida
com meus olhos gelados e beijas com minha boca?

E porque me acaricias
tão delicadamente, e te afastas
e voltas,
rinco com minhas próprias
gargalhadas de gelo para a solidão
que me faz encalhar
como um navio fantasma varado no deserto?

Quem há atrás do espelho
por onde trepa o medo e a esperança
na teia de aranha,
luminosa e frágil,
tecida por minhas lembranças?

Quem és tu, ó deusa,
que dentro de mim cresces
e dormes
e me sonhas?


(Trad. A.M.)

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>>  Teresa Gomez (sítio pessoal) / Círculo de poesia (4p) / Isliada (2p)

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