16.6.23

David González (O quebra-mar)




EL ROMPEOLAS     

 

mi padre
se levanta temprano cada mañana
para ir a nadar
para ir a nadar
a la piscina municipal en invierno
y a la del mar cantábrico en verano 

él se cree que así
me comenta mi madre, escéptica
no se va a morir nunca 

desde la ventana del estudio
donde me encierro a escribir
desde por la mañana temprano
y durante las cuatro estaciones
puedo ver la playa de mi padre
la arena que está pisando
y si tuviese a mano unos prismáticos
y forzara un poco la vista
podría, incluso, verle a él 

hace tiempo, años, que no le veo
ni hablo con él
ni siquiera por teléfono 

pero cuando luego
retiro mi frente del cristal
y acerco la silla
apoyo los codos sobre la mesa
y empiezo a escribir
lo hago con la confianza
y seguridad
del que se sabe
con las espaldas protegidas: 

su padre está ahí afuera,
nadando

y no se va a morir nunca.
 

David González

 

  

meu pai
levanta cedo todos os dias
para ir nadar
para ir nadar
no Inverno na piscina municipal
no Verão na do mar cantábrico 

ele julga que assim
diz-me, céptica, a minha mãe
não vai morrer nunca 

da janela do escritório
onde me meto a escrever
desde manhã cedo
e durante as quatro estações
eu consigo ver a praia do meu pai
e se tivesse uns binóculos
e forçasse um pouco a vista
podia mesmo vê-lo a ele 

há tempo, anos, que o não vejo
nem falo com ele
nem sequer por telefone 

mas depois quando
afasto a testa do vidro
e aproximo a cadeira
e começo a escrever
com os cotovelos na mesa
faço-o com a segurança
e confiança
de quem sabe que tem
as costas quentes: 

o teu pai está lá fora,
a nadar 

e não vai morrer nunca.
 

(Trad. A.M.)

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