(Ressumbrava-lhe no semblante...)
Foi há treze anos, em uma tarde calmosa de Agosto, neste mesmo escritório, e naquele canapé, que o cego de Landim esteve sentado.
São inolvidáveis as feições do homem.
Tinha cinquenta e cinco anos, rijos como raros homens de vida contrariada se gabam aos quarenta.
Ressumbrava-lhe no semblante anafado a paz e a saúde da consciência.
Tinha as espáduas largas; cabia-lhe muito ar no peito; coração e pulmões aviventavam-se na amplidão da pleura elástica.
Envidraçava as pupilas alvacentas com vidros esfumados, postos em grandes aros de ouro.
Trajava de preto, a sobrecasaca abotoada, a calça justa, e a bota lustrosa; apertava na mão esquerda as luvas amarrotadas e apoiava a direita no castão de prata de uma bengala.
- CAMILO CASTELO BRANCO, Novelas do Minho
(O Cego de Landim, I).
NOTA:
Lê-se o homem de génio, passado um século, ou pouco mais, em duas ou três novelas.
Anotam-se algumas palavras, em tal leitura, menos usuais no tráfico actual.
Vai-se ao dicionário (Priberam) e afinal estão lá todas, menos uma (esparavonar).
Aqui ficam, com esta impressão, de que porventura progredimos pouco em matéria de língua, nos últimos cem anos:
aflante
apojadura
arribana
averdugar
bagadas
barregar
boíz
bornal
cafurna
caluga
cangosta
carnaz
choutar
empecer
escarmentar
esparavonar
esquineta
granjearia
gilvaz
impertérrito
irrogar
jolda
ladravaz
lardo
pedâneo
perlustrar
rebalsar
ressumbrar
sestro
tumescente
virago
visagem
Para ver: Casa de Camilo
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