7.7.09

Ana Pérez Cañamares (Meu pai era Daniel)









MI PADRE SE LLAMABA DANIEL




Lo primero que pensé fue:
se ha muerto solo
(acompañar en la muerte
es el mejor bálsamo
para la culpa)


Lo segundo que pensé:
no me ha devuelto
mi última llamada
(nunca nos planteamos
que el deseo de independencia
también puede ser hereditario)


Lo tercero: ya no tengo padres
(y al mirar atrás descubrí
que hace ya mucho tiempo
que ninguna mano
sujeta la bici que monto)


Ahora no puedo dejar de pensar:
padre, yo no estoy muerta
pero también me pierdo muchas cosas.


Ya no estoy enfadada contigo.
Cada vez que te pienso
es domingo por la mañana.
Me llevas sobre los hombros
y yo sé que vas a invitarme
a un batido de chocolate
en el bar de la barra de zinc.
Después tu mano grande se abrirá
frente a mis ojos, y me mostrará el tesoro:
una chapa de mirinda y otra de pepsi.


Cuarenta años para descubrir
que allí estaba todo ya dicho.



Ana Pérez Cañamares

[Dalton Trompet]





O que pensei primeiro foi:
morreu sozinho
(o melhor bálsamo
para a culpa
é acompanhar na morte)


Depois pensei:
não me voltou a ligar
depois do meu último telefonema
(jamais reflectimos
que o desejo de independência
também pode ser hereditário)


E depois ainda: já não tenho pais
(e ao olhar para trás descobri
que há muito tempo
nenhuma mão
me segura a bicicleta para eu montar)


Agora não posso deixar de pensar:
pai, eu não estou morta
mas também perco muita coisa.


Já não estou chateada contigo.
De cada vez que penso em ti
é domingo de manhã.
Levas-me aos ombros
e eu sei que vais comprar-me
um batido de chocolate
no bar do balcão de zinco.
Depois a tua mão grande há-de abrir-se,
diante dos meus olhos, e mostrar-me o tesouro:
uma carica de mirinda e outra de pepsi.


Quarenta anos para descobrir
que estava já tudo dito ali.


(Trad. A.M.)




Fontes: El alma disponible (blogue pessoal) / Escritoras (nota+linque) / El libre pensador (entrevista-2008) / El rincon del haiku (haiku)


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