6.3.09

Luis Alberto de Cuenca (A mal casada)









A MAL CASADA





Dizes-me que Juan Luis não te compreende,
que só pensa nos computadores
e de noite não faz caso de ti.
Dizes-me que os teus filhos não te ajudam,
só dão problemas, aborrecem-se
com tudo e que estás farta de aturá-los.
Dizes-me que os teus pais estão velhos,
que se fizeram mesquinhos e egoístas
e que já não és como dantes a sua menina.
Dizes-me que fizeste trinta e cinco
e não é fácil começar de novo,
que os únicos homens que conheces
são os colegas de Juan na IBM
e que não gostas de executivos.
E eu, o que é que eu faço nesta história?
Que queres que eu faça? Que mate alguém?
Que faça um golpe de estado anarquista?
Amei-te como um louco. Não o nego.
Mas isso foi há muito, quando o mundo
era uma reluzente madrugada
que não quiseste partilhar comigo.
A saudade é um passatempo tosco.
Volta a ser a que foste. Vai ao ginásio,
pinta-te mais, disfarça as rugas
e veste roupa sexy, não sejas tonta,
pode ser que Juan Luis volte a mimar-te,
e os teus filhos vão acampar
e os teus pais morram.




Luis Alberto de Cuenca


(Trad. A.M.)


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