9.11.08

Sophia de Mello Breyner Andresen (Meditação do Duque de Gandia)









MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA
SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL





Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.



Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.



Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.



Nunca mais servirei senhor que possa morrer.



Sophia de Mello Breyner Andresen
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Fontes: Porto de Abrigo (+40p) / As Tormentas (53p+bio+fotos) / Jornal de Poesia (8p+ mais) / Lugar das palavras (80p+bio) / Triplo V (Poemas+Crítica e mais) / Poesia e prosa (45p) / Um-buraco-na-sombra(bio+37p) / Centro V. Camões (nota Clara Rocha) / Palavras d'Ouro (bio+15p) / nEscritas (homenagem>antologia verso/prosa)
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