30.10.08

Joaquim Namorado (Caridade)









CARIDADE






As senhoras da sociedade
deram um baile a rigor
para vestir a pobreza
e a pobreza horas a fio
cortou, coseu, enfeitou
os vestidos deslumbrantes
que a caridade exibiu.


Depois das contas bem feitas
bem tiradas as despesas
arranjou um namorado
a mais nova das Fonsecas;
esteve bem a viscondessa,
veio o nome e o retrato
da comissão nos jornais,
e o Doutor, o Menezes,
o senhor desembargador,
estiveram muito engraçados,
dançaram o tiro-liro
já meio-tombados...


Parece que ainda sobrou
algum dinheiro para chita
para vestir a pobreza
numa festa comovente
com discursos de homenagem
e uma missa...

a que assistiu toda a gente.



Joaquim Namorado




Fontes: As tormentas (9p) / DGLB (nota bio)

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28.10.08

Olhar (35)

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Corno de Bico
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(Paredes de Coura)
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Herberto Hélder (Fonte-II)










FONTE - II






No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.



Herberto Hélder
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26.10.08

António Ramos Rosa (Todo aquele que abre um livro)







Livros-1 (L.A.Cuenca)

Livros-2 (E.Andrade)

Livros-3 (M.Quintana)

Livros-4 (A.Gide)

Livros-5 (P.Neruda)

Livros-6 (A.R.Rosa)







TODO AQUELE QUE ABRE UM LIVRO




Todo aquele que abre um livro entra numa nuvem
ou para beber a água de um espelho
ou para se embriagar como um pássaro ingénuo
A sôfrega retina
vai-se tornando felina e inflada
e os seus liames tremem entre o júbilo e agonia
Um livro é redondo como uma serpente enrolada
e formado de fragmentos onde lateja o sangue
[ de um pulso
que já não é de um autor que nunca o foi
e que será sempre o ritmo do que está a nascer
irrigando o nada e os terraços sobre os abismos
Nunca o livro se completa embora o redondo
[ o circunde
e o mova para o seu interior sem nunca o envolver
Jamais a nuvem se dissipa mesmo quando
[ a claridade ofusca
Como se fosse preciso adormecer nela como sobre
[ os ombros do mundo
para acompanhar o fluxo ingenuamente novo
com os delicados diademas de fogo e espuma
O livro ora é de veludo ora de bronze
e os seus traços abrem janelas ou terraços
sobre o corpo latente como um arbusto entre pedras
Se a palavra vibra como um meteoro ou desliza
[ como uma anémona
ou não é mais do que uma estrela de areia
a sua proa sulca o incessante intervalo
entre o ardor de incompletos liames
e a estátua aérea que se eleva à sua frente
e continuamente se forma e se deforma
por não ser nada e ser o alvo puro
de um movimento ingénuo sonâmbulo e incerto.





António Ramos Rosa





Fonte: Barcos de Flores



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23.10.08

Raul Brandão (Até que recomeça a chover)






(Até que recomeça a chover...)




O frio é mortal e durante dias me persegue esta imagem cinzenta, feia e gelada.

Até que recomeça a chover, a chover de mansinho e nunca mais despega…

É então que eu gozo…

Aconchega-te e sonha.

Sonha à tua vontade, sem limites.

Acende a fogueira e ouve-a cantar lá fora, descer em enxurradas, passar em trombas com o vento e pingar dos beirais.

Esquece o mundo, esquece a vida e deixa-te reluzir por dentro como os troncos secos que ardem na lareira…

Agora é mansa e musical - bate devagarinho nas vidraças.

Há momentos em que me chama.

Ouço um grito ao longe…

Avança com arrancos e desperta-me…

Por fim o aguaceiro passa, as janelas sossegam - sch!... sch!... (Como tudo está calado!).

Fica um pingo que se não sabe donde cai, um som de flauta perdido entre os pinheirais solenes e distantes…



- RAUL BRANDÃO, Memórias, III, Balanço à vida.

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Ver (5)




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Fiama Hasse Pais Brandão (Em Galafura)








EM GALAFURA





Os povoadores da beira Douro
conhecem o pó e as pedras.
E sabem que o Universo
concebe cerejais e parras.
Vivem como vermes magníficos,
iluminados por dias soalheiros,
obscurecidos pelas invernias.




Fiama Hasse Pais Brandão
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Fontes: Um-buraco-na-sombra (bio+24p) / Mulheres-ps20 (bio+2p+etc) /
Poesias-e-prosas (14p) / As tormentas (5p)
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S. Leonardo
Miradoiro
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19.10.08

Maria Teresa Horta (Desperta)











DESPERTA




desperta-me
de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito



é rede a tua língua
em sua teia
é vicio as palavras
com que falas



a trégua
a entrega
o disfarce



e lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes



desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo



e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vais descobrindo vales




Maria Teresa Horta


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17.10.08

Vicente Gallego (O mulherengo)





EL MUJERIEGO


He amado a las mujeres, y debo confesar
que en muchas ocasiones
con ellas yo pequé de pensamiento,
palabra y omisión, pues con el tacto
he librado tan sólo las batallas corrientes,
- y alguna escaramuza, a qué mentir,
de muy dudoso gusto y gloria escasa -
pero mi amor más fiel, el verdadero,
el que nunca me aburre, el que termina
amenazando un día mi constancia,
es siempre esa mujer, esa desconocida
de la que habla un amigo en un poema,
y que tantos dejamos, por desidia,
porque vamos con otra o por vergüenza,
pasar siempre de largo,
tan diferente siempre y siempre hermosa.
Y cuando alguna vez nos acercamos,
vencidos los temores, con qué prisa
su nombre cambia, baja y se concreta,
toma su rostro forma exacta, olvidan
muy pronto nuestros ojos su misterio,
pues la mano lo toca, y se deshace.

He amado a las mujeres, todavía las amo,
y sufro mucho al verlas alejarse,
espléndidas y ajenas, con sus hijos
de la mano, o aún con uniforme,
casi niñas - la nuca entre sudada
y el olor a colonia tras los juegos -
o adolescentes casi, en esa edad
en que duermen inquietas si es verano.
Y todas con olores que nos hacen soñar,
en su belleza crueles, pues sólo esos olores,
extraños y envolventes,
al cabo han de dejar, si pasan cerca,
como un camino abierto en nuestras vidas.
Pero fui terco en el amor de algunas,
y es difícil así frecuentarlas a todas.

He amado a las mujeres, y por ellas sospecho
que quisiera perderme,
si tuviera dinero, y ayudaran un poco.

Vicente Gallego



O MULHERENGO


Amei as mulheres, e devo confessar
que em muitas ocasiões
pequei por elas em pensamentos,
palavras e omissões, já que pelo tacto
entreguei-me apenas às batalhas correntes
- e uma ou outra escaramuça, para quê mentir,
de gosto bem duvidoso e escassa glória –
mas o meu amor mais fiel, o verdadeiro,
o que nunca me aborrece, o que um dia
vai acabar por ameaçar-me a constância,
é sempre essa mulher, essa desconhecida
de que um amigo meu fala num poema,
e que nós, por inércia,
porque vamos com outra ou por vergonha,
deixamos passar sempre de largo,
tão diferente sempre e sempre formosa.
E quando um dia nos chegamos,
vencido o temor, com que rapidez
o seu nome muda, desce e se mostra,
então o rosto dela toma sua forma exacta,
e os nossos olhos depressa olvidam o seu mistério,
pois tocamos-lhe com a mão e ele desfaz-se.

Amei as mulheres, ainda amo,
e sofro muito quando se afastam,
esplêndidas e alheias, com os filhos
pela mão, ou ainda de uniforme,
meninas quase - a nuca suada
e o cheiro de colónia após a brincadeira –
ou quase adolescentes, nessa idade
em que não dormem tranquilas
quando chega o verão.
E todas com olores que nos fazem sonhar,
cruéis na sua beleza, pois no fim
hão-de deixar apenas esses olores, passando perto,
como um caminho aberto na nossa vida.
Mas obstinei-me no amor de algumas,
e é difícil assim frequentá-las a todas.

Amei as mulheres e acho mesmo
que gostaria de perder-me por elas,
assim eu tivesse dinheiro
e elas ajudassem um bocadinho.


(Trad. A.M.)



Fontes: Cervantes (perfil+antologia) / A media voz (30p) / Abel Martin (20p) / Poesia-inter.net (40p) / Arte poetica (12p)
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Coitado do Jorge (47)









UM BELO QUARTO DE HORA







Foi uma bela q…. – disse ela, ainda bastante encalorada.
Depois corrigiu:
- Desculpe, um belo quarto de hora…
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15.10.08

Carlos Drummond de Andrade (Quadrilha)










QUADRILHA






João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.




Carlos Drummond de Andrade




13.10.08

Ramiro Fonte (El enemigo)







EL ENEMIGO



Cuando estés un poco malogrado
o te importune ese personaje
que la derrota, muy sutil urdiera,
puede hacer asomar en tu rostro,
no arrojes tu sueño como un anillo al río,
sobre aquello que amas no puedas renunciar.


Cuando estés un poco malherido,
quizás también oscuro, puede que un tanto harto
y, al procurar verso, no encuentres
la música apropiada, lo que te exige el canto,
recuerda que algún día fuiste dueño,
que guardar silencio puede ser causa grande.


Cuando llenes de vaho los espejos con la tristeza
de ese ser que los procura, y anda errante en la casa
como un barco impaciente que abandonó el mar,
nunca pierdas el rastro de las estrellas
fugitivas, y nunca te abandones
al gesto vano, a lo falso o a la mentira.


Cuando quieras vivir
por un país que esté más al norte,
más cerca de la vida; al abrigo de otros puertos
a los que desciende el cielo con toda la claridad,
y lejos de estos hombres que no quieren
saber lo que tú mucho querrías,
pensa en la casa sola que, desnuda, se dirige
valiente y traicionada hacia el mar;
y que debes salvarla, dándole otros caminos.


Es así que en esta hora te sucede
que estás un poco triste, malherido,
un tanto malogrado y sabes letras
de esas torpes canciones del desencanto,
mi viejo capitán de las bajas horas,
olvídate de mí, pero no olvides
los pactos misteriosos a los que entre los dos llegamos,
deja que suene la música. Y que pase otra vez.



RAMIRO FONTE(*)
Adeus Norte
(1991)



Fonte: A media voz (10p) / Casa-das-letras (notícia da morte: 12.10.2008) / El Pais (entrevista) / La Voz de Galicia (entrevista)




(*) Morreu ontem.
Foi director do Instituto Cervantes, em Lisboa.
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12.10.08

Nuno Júdice (O poeta)






O POETA




Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
um desses que preenche
cadernos de folha azul com
números
de deve e haver. De facto, o que
deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe
acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai
do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas,
de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um
escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que
passa a caminho
da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu;
e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia
interrupção da morte.



Nuno Júdice

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10.10.08

Olhar (34)








Sete Cidades

(S. Miguel)

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Raul Brandão (Está para morrer)





(Está para morrer…)



Logo depois das lufadas, dias parados e mornos com sol coado por névoas, todos brancos e meio adormecidos.

O caseiro com o seu velho casaco de remendos apõe os bois para carregar um carro de mato.

Assim que este fantasma branco se esvai tornam os dias límpidos.

E agora o vereis!

A tília ergue-se no azul toda de oiro, os choupos esguios estremecem e a vinha esfarrapa-se cor de mosto entre as leirinhas viçosas e os montes roxos e pasmados.

Está frio.

Já apetece comer os gaipelos que ficaram esquecidos para os podadores, transparentes, gelados e doces como mel.

Passo horas extasiado na vinha com medo de me mexer e todos os dias pergunto: - É o último?

O tempo está para morrer.

Às primeiras chuvas pesadas o doirado desaparece no negrume.

Tremo pela luz, pelo esplêndido Outono que está por um fio..

E sinto tudo isto com delícia, como quem está para morrer…



- RAUL BRANDÃO, Memórias, III, Balanço à vida.
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7.10.08

Adília Lopes (Se Newton andasse)








Se Newton andasse
a andar de carro
pelo pomar
em vez de andar
a andar a pé
não tinha dado
pela queda da maçã



Se Rousseau andasse
a andar de carro
em vez de andar
a passear a pé
não tinha escrito
aquele livro
tão bonito



Detesto carros
são uma porcaria



Mas lembro-me
do Luís taxista
que guiava tão bem
e que me disse
"dê um abraço meu
à sua mãe"




Adília Lopes





Fonte: Nautilus


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5.10.08

David Mourão-Ferreira (E por vezes)









E POR VEZES





E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes



encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes



ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos



E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.





David Mourão-Ferreira






Pablo Neruda (Ode ao livro)







Livros-1 (L.A.Cuenca)

Livros-2 (E.Andrade)

Livros-3 (M.Quintana)

Livros-4 (A.Gide)

Livros-5 (P.Neruda)







ODE AO LIVRO








Nós
os poetas caminheiros
explorámos o mundo, a cada porta
recebeu-nos a vida,
participámos na luta terrestre.
A nossa vitória qual foi?
Um livro, um livro cheio
de contactos humanos,
de camisas, um livro
sem solidão, com homens
e ferramentas, um livro
é a vitória. Vive e cai
como todos os frutos,
não só tem luz,
não só tem sombra,
apaga-se,
desfolha-se,
perde-se de rua em rua,
despenha-se na terra.
Livro de versos
de amanhã, volta
outra vez a ter neve ou musgo
nas tuas páginas
para que os pés
ou os olhos vão gravando sinais:
descreve-nos
de novo o mundo, as fontes
entre a espessura,
os altos arvoredos,
os planetas polares,
e o homem
nos caminhos,
nos novos caminhos,
avançandona selva, na água, no céu,
na mais nua solidão marinha,
o homem
descobrindo os últimos segredos,
o homem
regressando com um livro,
o caçador
tornando a casa com um livro,
o camponês
lavrando com um livro.



Pablo Neruda



Fonte: Barcos de Flores

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3.10.08

Antonio Gamoneda (Amor)










AMOR






A minha maneira de amar-te é simples:
aperto-te a mim
como se tivesse um pouco de justiça no coração
e ta pudesse dar com o corpo



Quando te revolvo os cabelos
algo de lindo nasce das minhas mãos



E não sei quase mais nada. Aspiro apenas
a estar contigo em paz e a estar em paz
com um dever desconhecido
que às vezes me pesa também no coração



Antonio Gamoneda


(Trad. A.M.)



(Original)



Fontes: A-media-voz (bio+poemas) / Abel Martin (bio+biblio+antologia)
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