O que me pesa é a inutilidade da vida.
Agarro-me a um sonho; desfaz-se-me nas mãos; agarro-me a uma mentira e sempre a mesma voz me repete:
- RAUL BRANDÃO, Memórias, I, prefácio.
Fontes: Poesi-as (74p) / A-media-voz (33p) / A-media-voz-2 (10p) / Los-poetas (36p+bio) / Club-Cultura (sítio of./obra toda)
A CONCHA
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.
A minha casa. . . Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
Fonte: Jornal de Poesia
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AUGÚRIO
Não antecipes a tristeza
de morrer: não queiras muito
às lágrimas: consola-te
bebendo-as. E sê grato ao dia
em que, vivo, as tragaste.
António Osório
Fonte: Lidia Aparício
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