Não me arrependo, nunca me arrependi.
Perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído.
Não me habituo: não posso ver uma árvore sem espanto, e acabo desconhecendo a vida e titubeando como comecei a vida.
Ignoro tudo, acho tudo esplêndido, até as coisas vulgares: extraio ternura de uma pedra.
Não sei - nem me importo - se creio na imortalidade da alma, mas do fundo do meu ser agradeço a Deus ter-me deixado assistir um momento a este espectáculo desabalado da vida.
Isso me basta.
Isso me enche: levo-o para a cova, para remoer durante séculos e séculos até ao juízo final.
- RAUL BRANDÃO, Memórias, I, prefácio.
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