31.7.07

António Osório (A um mirto)









A UM MIRTO








Nascido antes de Cristo
Uma vez mais floriu
o velho e agora jovem mirto.
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Junto ao poço as suas fundas raízes
e o mesmo vivo, sempre generoso
aroma das folhas; o tronco
torturado por nodosas chagas,
cavernas, golpeado de musgo e cobre,
mas com baixos, com tenazes rebentos.
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Quantos ali perdeste, quantos
se amaram à tua sombra?
Alguém como eu acaso te beijou?
Quantos passos em volta? Quanta chuva
desejou o Romano que para aqui te trouxe?
E quantas exalações da vida assististe
como muda testemunha, ó corpo mediterrâneo
sobrevivente a tantos tantos deuses mortos?



António Osório






Outras: DGLB (bio+ antologia) / As Tormentas (bio+6p) / Lídia Aparício (16p) / nEscritas (4p)
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