28.6.06

Jorge de Sena (Conheço o sal)





Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousada em suor nocturno.


Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.


Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.


Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.


Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.


A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.



Jorge de Sena


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