
AS PALAVRAS
Fluem as palavras? Sobre um solo
fugidio e alto.
Um simulacro?
Fluem as palavras como um óleo de sombra?
Tocam acaso o tímpano verde
das cigarras?
Têm o perfume das virilhas da montanha?
Arfam como uma fornalha branca
ou rasgam
como uma espada intensa?
Quantas vezes são a ausência armada,
o fumo da voz,
a saliva do cipreste!
Outras vezes são uma linha de água
ou vidros em que a chuva se detém
ou um campo vermelho sob o vento.
Quando são balanças ou órgãos sobre a neve,
quando são antenas de sangue,
quando respiram com o seu hálito branco,
são ainda um simulacro?
ANTÓNIO RAMOS ROSA
Facilidade do Ar
(1990)
Fluem as palavras? Sobre um solo
fugidio e alto.
Um simulacro?
Fluem as palavras como um óleo de sombra?
Tocam acaso o tímpano verde
das cigarras?
Têm o perfume das virilhas da montanha?
Arfam como uma fornalha branca
ou rasgam
como uma espada intensa?
Quantas vezes são a ausência armada,
o fumo da voz,
a saliva do cipreste!
Outras vezes são uma linha de água
ou vidros em que a chuva se detém
ou um campo vermelho sob o vento.
Quando são balanças ou órgãos sobre a neve,
quando são antenas de sangue,
quando respiram com o seu hálito branco,
são ainda um simulacro?
ANTÓNIO RAMOS ROSA
Facilidade do Ar
(1990)
.