1.1.22

Jorge Luis Borges (Fim de ano)




FINAL  DE AÑO

 

Ni el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de que a despecho de que somos
las gotas del río de Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil,
algo que no encontró lo que buscaba.


Jorge Luis Borges

[Marcelo Leites]

 


Nem o pormenor simbólico
de trocar um três por um dois,
nem essa metáfora inútil
de um ciclo que morre e outro que nasce,
nem o cumprimento de um processo astronómico
aturdem e solapam
o planalto desta noite
e nos obrigam a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e enganosa
do enigma do Tempo;
é o assombro ante o milagre de,
apesar de infinitos acasos,
apesar de sermos gotas do rio de Heráclito,
algo perdurar em nós:
imóvel,
algo que não encontrou o que buscava.


(Trad. A.M.)


> Outra versão: F.P.Amaral

.