6.11.25

Aldo Luis Novelli (O oleiro-III)




EL ALFARERO-III 

(8)

venimos del barro elemental
con las manos vacías
y el alma iluminada. 

a poco de andar
rozando la piel del mundo
nos ponemos de pie
y reímos de alegría
al sabernos humanos. 

pero en la mitad del camino
dejamos de reír
llenamos las manos de baratijas
y el alma va perdiendo su luz
se vuelve opaca
como la tierra sucia que vuela
en las ciudades de cemento. 

al final del camino
nos despojamos
de las cargas de la espalda
vaciamos nuestras manos
nos arrodillamos en el barro
y oramos al dios sol
para que nos ilumine nuevamente el alma.
 

Aldo Luis Novelli

[Marcelo Leites] 

 

(8)

Nós vimos do barro elementar
com as mãos vazias
e a alma iluminada.
 

A pouco de andar
roçando a pele do mundo
pomo-nos de pé
e rimos de alegria
ao sabermo-nos humanos.

Mas a meio do caminho
deixamos de rir
enchemos as mãos de bugigangas
e a alma vai perdendo a luz
tornando-se opaca
como a poeira que voa
na cidade de cimento. 

No fim do caminho
tiramos o carrego das costas
esvaziamos as mãos
e ajoelhamos na lama
pedindo ao deus sol
que nos ilumine a alma de novo.
 

(Trad. A.M.)

 .

5.11.25

Basilio Sánchez (Árvores)




ÁRBOLES

 

El buscador de sombra
reconoce en un árbol su majestuosidad,
pero elige en secreto su pobreza.

El rastreador de símbolos
encuentra en la corteza arrancada de los árboles
una caligrafía primitiva,
las huellas de una forma en desuso
de comunicación con la existencia:
una expresión remota, la más rudimentaria,
del agradecimiento.

No hay consuelo para los desterrados:
para ellos el bosque es la quimera
de un retorno imposible,
la lluvia de otros días,
la memoria de un árbol levantándose
entre el cielo y los hombres
ante la puerta de la casa,
el ruido de sus hojas disputándose el aire.

Basilio Sánchez

 

O buscador de sombra
reconhece numa árvore a majestade,
mas prefere-lhe em segredo a pobreza.

O pesquisador de símbolos
encontra na casca das árvores
uma primitiva caligrafia,
os traços de uma forma desusada
de comunicação com a existência:
uma expressão remota, a mais rudimentar,
de agradecimento.

Não há consolação para os desterrados,
para eles o bosque é a quimera
de um impossível retorno,
a chuva de outros dias,
a memória de uma árvore erguendo-se
entre os homens e o céu
frente à porta de casa,
com o ruído das folhas a disputarem o ar.


(Trad. A.M.)

.

3.11.25

Francisco Rodriges Lobo (Se coubesse em meus versos)




Se coubesse em meus versos e em meu canto
a tristeza sem fim que o peito encerra,
moveria aos penedos desta serra
a nova piedade e novo espanto.

Se puderam meus olhos chorar tanto
quanto se deve à causa que os desterra,
cobriram já em lágrimas a terra,
escurecendo o seu tão verde manto.

Mas o que tem amor dentro encerrado
na alma, que à língua e olhos se defende,
não pode ser com lágrimas contado:

Ah! quem sabe sentir quanto compreende
que o mal que está oculto em meu cuidado
não se vê, não se mostra, não se entende.


Francisco Rodrigues Lobo

[Um reino maravilhoso]

 .

1.11.25

Victor Herrero de Miguel (Filologia)




FILOLOGIA

 

Compreende-lo agora. Tanto estudo,
tanta morfologia e a sintaxe
do latim e do grego,
as tardes com Eurípedes,
tanto afã dedicado a entrever
que lógica governa os acasos
que dão impulso às línguas,
tanta filologia
era de todo necessária
para estar em silêncio frente ao mundo.


Victor Herrero de Miguel

(Trad. A.M.)

 .


 

31.10.25

Karmelo C. Iribarren (Não é o meu este tempo)




NÃO É O MEU ESTE TEMPO

 

Estas ruas que corro todos os dias
não são já faz tempo
as minhas ruas. 

Passo as pontes, entro nas livrarias,
sento-me nos bancos das praças,
miro a chuva hipnotizado no bar,
faço enfim o que sempre fiz,
mas não são as minhas ruas. 

Faz tempo resolvi pôr-me à margem
de um corrupio de gente e de ideias
que não me dizem nada,
em que não me reconheço. 

Com tal companhia, melhor sozinho.
 

Karmelo C. Iribarren 

(Trad. A.M.)

 .

29.10.25

José Tolentino Mendonça (Isto é o meu corpo)




ISTO É O MEU CORPO



O corpo tem degraus, todos eles inclinados
milhares de lembranças do que lhe aconteceu
tem filiação, geometria
um desabamento que começa do avesso
e formas que ninguém ouve

O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
de onde vem este braço que toca no outro,
de onde vêm estas pernas entrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?

Não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar


José Tolentino Mendonça

[Um reino maravilhosos]

 .

27.10.25

Alfonso Brezmes (Autobiografia alheia)




AUTOBIOGRAFIA ALHEIA

 

Imperdoável lapso,
ter a vida toda para trás
e não saber onde a puseste.

Estranho paradoxo,
ter a vida toda pela frente
e passá-la a sonhar como viver.


Alfonso Brezmes

(Trad. A.M.)

 .