20.5.09

Jorge Luís Borges (Religio Medici)









RELIGIO MEDICI, 1643






Defende-me, Senhor. (O vocativo
não implica Ninguém. É só uma palavra
deste exercício que o tédio lavra
e que redijo na tarde do temor.)
Defende-me de mim. Disseram-no já
Montaigne e Browne e um espanhol que ignoro;
algo me resta ainda de todo esse ouro
que recolheram meus olhos de sombra.
Defende-me, Senhor, do impaciente
apetite de ser mármore e olvido;
defende-me de ser o que já fui,
o que já fui irreparavelmente.
Não da espada ou da rubra lança
defende-me, mas é da esperança.




JORGE LUIS BORGES,
El Oro de los Tigres (1972)




(Trad. A.M.)


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