11.12.06

Cristóvão de Aguiar (Serviu-lhe de emenda)





Numa dessas ocasiões de tentação demoníaca, esteve o porquinho vermelho, ainda mal desmamado, à beira de ficar todo rebentado por dentro, tamanho foi o estoiro de encontro à calçada do curral.

O fidalgo havia deixado a lavagem quase toda na pia.

Mal lhe tocara.

Vavô Evaristo, que já não gostava nada da raça dos porcos, perdeu o resto do tino ao vê-lo mirrar-se de dia para dia de comedouro cheio.

Não se contendo mais, pegou no marrão e atirou-o com quanta força tinha (e era muita!) contra o empedrado da pocilga.

Valeu ao bicho a alcatifa de estrume que o amparou em tão feia queda.

Dormiu a sono solto durante horas acrescentadas, até parecia já defunto.

Ao vir porém a si, a primeira coisa que fez foi dirigir-se à pia: meteu o focinho com o arganel e sorveu a lavagem empapada em gorgolejos insofridos e não deixou um suor no fundo lambido do comedouro.

Serviu-lhe de emenda.



- CRISTÓVÃO DE AGUIAR, O fruto e o sonho, 1.ª parte, cap. V, in medio, da trilogia Raiz Comovida.

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