A alegria que agora me alaga o íntimo por não ter ainda nesse tempo pousado a morte no limiar de ladrilho de nossa casa!
Pouco ou nenhum sentido se deitava a estas súbitas reinvenções de uma ternura serôdia.
As palavras eram apenas pedaços de pão ou pedras esquinadas que eu atirava, rasantes e zunindo, aos gargalos das galinhas sem culpa que debicavam contra as paredes revestidas de coucelos.
Ficavam desmaiadas até lhes mergulhar o pescoço bambo na selha de água para virem a si.
Não usavam ainda as palavras a máscara e os disfarces do entrudo da sintaxe.
Possuíam o chão de terra estrumado e conjugavam-se na alegria fundamental do verbo crescer — saboroso mistério de silenciosa seiva subindo, subindo.
Eram a casa terreira juncada de caruma e rescendendo a resina e a maresia.
Nelas se instalava o forno do pão, inchado de labaredas, que o esborralhadouro embandeirado na ponta com trapos escorrendo percorria como um falo florescente.
Não poderia nelas, palavras, caber a morte, esse substantivo subentendido de coisa nenhuma.
- CRISTÓVÃO DE AGUIAR,
O fruto e o sonho, 1.ª parte, cap. II, abertura, da trilogia
Raiz Comovida.
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