(Lido aos 18 anos, jamais esquecido…)
Porque não adormeço eu, como o rude barqueiro, ao murmúrio das vagas sonolentas, ao sussurro da brisa do norte?
Porque mulher bárbara não entendeu o que valia o amor de Eurico; porque velho orgulhoso e avaro sabia mais um nome de avós do que eu, e porque nos seus cofres havia mais alguns punhados de ouro do que nos meus.
As mãos imbeles de uma donzela e de um velho esmagaram e despedaçaram o coração de um homem, como os caçadores cobardes assassinam no fojo o leão indomável e generoso.
E, todavia, este coração sentia a voz da consciência pregoar-lhe largos destinos!
Porque não emudeceu essa voz quando do pórtico do templo lancei ao mundo a maldição da despedida?
Porque me lembra com saudade, aqui, a estas horas, o tempo das minhas esperanças?
ALEXANDRE HERCULANO,
Eurico, o Presbítero, VI, 2.
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