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Jorge Luis Borges (Dezassete haicai)
DEZASSETE HAICAI
1
Algo me disseram
a tarde e a montanha.
Já me passou.
2
A vasta noite
não é agora mais
que uma fragrância.
3
É ou não é
o sonho que olvidei
antes da alba?
4
Calam-se as cordas.
A música sabia
o que eu sinto.
5
Hoje não me alegra
a amendoeira do passal.
Lembra-me de ti.
6
Obscuramente,
livros, lâminas, chaves
seguem o meu fado.
7
Desde então
não mais mexi as peças
no tabuleiro.
8
No deserto
acontece a aurora.
Alguém o sabe.
9
A espada ociosa
sonha com as batalhas.
Meu sonho é outro.
10
O homem morreu.
A barba não sabe.
Crescem as unhas.
11
Esta é a mão
que às vezes passava
no teu cabelo.
12
Sob o beiral
o espelho copia
apenas a lua.
13
Com a lua
a sombra estendida
é uma só.
14
É um império
essa luz que se apaga
ou uma candeia?
15
A lua nova,
também ela a olha
de outro porto.
16
Trinado ao longe.
Mal sabe o rouxinol
que te consola.
17
A velha mão
vai traçando versos
para o esquecimento.
Jorge Luis Borges
(Trad. A.M.)
Original:
Catedral
.