Sofreei o macho.
Caía neve, se Deus a dava, em rala, em grandes flocos, às mancheias, assim à tola, como grão lançado a um campo por semeador arrenegado ou pouco experiente de mão.
Nascera a Lua, mas que Lua!?
Uma cara bochechuda de estalajadeira à espreita, lá do fundo da casa, para o estendedoiro da sua roupa branca.
O mundo mais não era que bragal puríssimo, bragal que, batido às vezes por uma refega de vento, alevantava para deixar a nu pedações de terra e de mato, sujos e negros como os restos do estrume mal cobertos na vessada.
Não era desta neve que doba mansa do céu e parece, bailando, o esflorar das pereiras na Primavera; era a neve ladroa - como para aí lhe chamam - a neve das moscas brancas que voltejam, giram, rodopiam, vêm de trás, de diante, de baixo, dos lados, metem-se por todas as fisgas e grelhas à busca de coiro vivo em que ferrar.
Soprava-lhes o nordeste, o grande bufador, e era vê-las de asas ligeiras, enchendo o céu, a voar, a voar umas atrás das outras, ora muito juntas, ora desenrodilhadas, num vira sem fim.
- AQUILINO RIBEIRO,
O Malhadinhas, IX.
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