11.1.22

José Ángel Cilleruelo (Transparência)




TRANSPARENCIA  

 

Hay épocas en que la luz
solo anhela las transparencias.
Se pasa horas en los puestos
de pigmentos, revuelve y selecciona
los que, sabiamente mezclados,
consigan cualidad diáfana
en su trazo. Prescinde de colores,
de urdimbres, ni siquiera la pared
blanca ante la que se reclina
a descansar la tarde le interesa.
Atiende solo a lo traslúcido.
Artista que despliega las bobinas
de sedas sobre lo real.
Las extiende ante todo cuanto quiera
pintar. Se ensimisma en los pliegues.
Aspira, como yo,
a mirar lo que no se muestra,
pero estoy viendo.

José Ángel Cilleruelo

[Poesia vim buscar-te]

 

 

Há alturas em que a luz
busca só as transparências.
Passa horas nas bancas
de pigmentos, remexe e escolhe
os que, sabiamente misturados,
lhe dêem no traço diáfana
qualidade. Prescinde de cores,
tessituras, nem sequer a parede
branca lhe interessa,
em face da qual a tarde se reclina a descansar.
Interessa-lhe só o translúcido.
Artista desenrolando os novelos
de sedas sobre o real,
estende-os diante do que quer
pintar. Enreda-se nas dobras.
Aspira, tal como eu,
a contemplar o que não se mostra,
mas que eu estou vendo.

 

(Trad. A.M.)

 

> Outra versão: Supra, fonte indicada.

 .