29.2.12

Luís de Camões (Busque Amor novas artes)






Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.


Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.


Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,


Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.


Luís de Camões

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28.2.12

Karmelo C. Iribarren (A caminho do colégio)






HACIA EL INTERNADO



Las estaciones,
esos lugares de paso,
tan poéticos, sí,
tan cinematográficos…

Salvo
cuando el tren que parte es el tuyo,
y ves –desde el último vagón–
la figura de tu madre en el andén,
enviándote besos por el aire
y haciéndose cada vez
más pequeña bajo la lluvia;

como te haces más pequeño tú,
que miras tu mano y te falta la suya,
y solo tienes cinco años,
y ni siquiera sabes
quién te espera allí.



Karmelo C. Iribarren



[Escrito en el viento]




As estações,
esses lugares de passagem,
tão poéticos, sim,
tão cinematográficos.

Salvo
quando o comboio que parte é o teu,
e vês – da última carruagem –
a figura da tua mãe na plataforma,
a mandar-te beijos pelo ar
e a fazer-se cada vez
mais pequena sob a chuva;

como tu também te fazes mais pequeno,
e olhas a tua mão e falta-te a dela,
e tens só cinco anos,
e nem sequer sabes
quem te espera no destino.


(Trad. A.M.)

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27.2.12

Carlos Drummond de Andrade (Mundo grande)






MUNDO GRANDE




Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho
cruamente nas livrarias: preciso de todos.


Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.


Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros,
carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem...sem que ele estale.


Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos voltarão?


Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam).


Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.


Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante
exaustivas e convocando ao suicídio.


Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
que o mundo, o grande mundo está
crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.


Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! Nós te criaremos.



Carlos Drummond de Andrade


[Poemblog]


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Blanca Varela (Ninguém nos diz como)






Nadie nos dice cómo
voltear la cara contra la pared
y
morirnos sencillamente
así como lo hicieron el gato
o el perro de la casa
o el elefante
que caminó en pos de su agonía
como quien va
a una impostergable ceremonia
batiendo orejas
al compás
del cadencioso resuello
de su trompa
sólo en el reino animal
hay ejemplares de tal
comportamiento
cambiar el paso
acercarse
y oler lo ya vivido
y dar la vuelta
sencillamente
dar la vuelta

Blanca Varela




Ninguém nos diz como
virar a cara para a parede
e
morrer simplesmente
assim como o gato
ou o cão da casa
ou o elefante
que marchou atrás da sua agonia
como quem vai
a uma cerimónia inadiável
abanando as orelhas
a compasso da tromba
só no reino animal
há exemplos de tal
comportamento
trocar o passo
acercar-se
e cheirar o já vivido
e virar-se
simplesmente
virar-se

(Trad. A.M.)



> Outras versões: Modo de usar (Angélica Freitas) / Raposas a sul (A. Cabrita)


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26.2.12

Armando Silva Carvalho (O nevoeiro envolve devagar)






O nevoeiro envolve devagar
Casas e almas
Entranha-se na escrita e molha-me
As palavras
Que nascem da manhã num trabalho de parto
Suave e melancólico.

Sinto nas vértebras a indecisão
Da vida,
A memória encoberta,
Todo o meu corpo se dissolve
Numa cinza líquida.
Morrer assim, seria a despedida do meu signo,
Água na água,
Assim como era no princípio.
Sinto o passado fluir
Por entre sombras que o presente
Não quer interpretar.
Fluidos são também os prédios que me deixam
Num mar de leite aéreo,
Droga feliz, sem álcool, sem química,
Sem ressaca.

Futuro? Que futuro?
São as próprias palavras que já nascem
Sem tempo.

Agora nada me devora.
Se eu próprio erguesse os braços como um espectro,
Quem me apontaria o caminho,
Aqui,
Neste país submerso?


Armando Silva Carvalho


[Luz & sombra]

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25.2.12

José Luis Piquero (A vida das moscas)






LA VIDA DE LAS MOSCAS





Nosotros no dormimos. Hay un gesto
de araña en cada sombra amenazante
y el silencio se llena de presagios.

No dormimos. Quemamos
las horas como extraños cigarrillos.
Sabemos que ahí afuera la vida es deseable,
las chicas huelen bien,
y nada de eso es nuestro.

No podemos dormir, no hemos dormido nunca.
A veces alguien mira, de perfil, preguntándose
con dolor qué esperamos
desde hace tanto tiempo. Las arañas,
las arañas. No hemos dormido nunca.

Y pasamos los días con los ojos abiertos
como esos tragaluces que miran desde un sótano.
Ya nos duelen los párpados
y alguien dice palabras,
el mundo está bien hecho, simplemente
nuestra vida es así.

Ojalá nos muriésemos como quien no ha vivido,
que un soplo nos borrase la arena de los labios,
sin huellas y sin humo, apagando la luz.

Ah, si por fin durmiéramos, no puedo imaginarlo.
Tus labios cantarían una canción de cuna.
Más también las arañas... Hay un gesto
de mosca en cada sombra. Oh, Señor de las Moscas,
la vida es un infierno.

Nosotros no dormimos, igual que las arañas,
cristales y arenilla bajo la nuca insomne.

Ellas tejen sus redes.

Por si las moscas.



José Luis Piquero


[Un rincón para la poesía]






Nós cá não dormimos. Há um gesto
de aranha em cada sombra ameaçadora
e o silêncio enche-se de presságios.

Não dormimos. Queimamos
as horas como estranhos cigarros.
Sabemos que lá fora a vida é agradável,
as raparigas cheiram bem,
e nada disso nos pertence.

Não podemos dormir, não dormimos nunca.
Às vezes, alguém olha, de lado, a perguntar-se,
condoído, o que é que esperamos,
há tanto tempo. As aranhas,
são as aranhas. Não dormimos nunca.

E passamos os dias de olhos abertos,
como essas clarabóias que iluminam as caves.
Doem-nos já os olhos
e alguém diz coisas,
o mundo é perfeito, mas
é assim a nossa vida.

Quem nos dera morrer como quem não viveu,
e que um sopro nos tirasse a areia dos lábios,
sem marcas nem fumo, apagando a luz.

Ah, se enfim dormíssemos, nem consigo imaginar.
Teus lábios cantariam uma canção de embalar.
Mas também as aranhas... Há um gesto
de mosca em cada sombra. Oh, Senhor das Moscas,
a vida é um inferno.

Nós cá não dormimos, tal como as aranhas,
vidros e areia sob a cabeça insone.

Elas tecem suas teias.

Para o caso de as moscas.



(Trad. A.M.)

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24.2.12

Aquilino Ribeiro (A malha-3)






(Ainda a malha)



Era um buzinado de guerra.

À porfia, de olhos no chão moventes em que o sol, já alto, se espojava num delíquio de luz e de fogo, apertavam uns com os outros.

Com luzinhas presas a cada aresta de palha, a eira breve se tornava um caldeirão de cobre a ferver.

Por isso mesmo a manobra requeria olho fino e mão lesta.

Já os olhos, em sua fixidez para a mobilidade, desvairavam.

Mas os braços obedeciam pela ordenança mesmo do vaivém.

E sempre avante!...

O grão lá ia largando, era ver as zagalotadas que acompanhavam o erguer dos pirtigos na palha delida.

Conho, tinha que saltar, para ir ao crivo das cirandeiras, às arcas, à azenha, e volver do forno no pãozinho que, com tanto apego, se pede ao Senhor no padre-nosso.

Agora, que escorresse lume, ou se calcasse lume, era deitar o alento todo.

E, hã-hã, hã-hã, lá iam.


- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 1.ª parte, II.

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José Luis García Martín (O impossível)






LO IMPOSIBLE




Por odio de lo fácil detesto la aventura.
¿Qué mayor aventura que abrir una ventana,
mirar pasar las nubes mientras pasa la tarde,
acariciar tu pelo, acostarse temprano,
escuchar una voz que canta en otro siglo?
Por odio de lo fácil. Déjame que sonría
ante tantos que anhelan lo que jamás les falta.
No se pisa dos veces en el mismo lugar.
Nadie abraza dos veces a la misma persona.
No se detiene nunca la nave que nos lleva,
incansable da vueltas en su viaje estelar.
Mírame: ya soy otro. Y te sigo queriendo
a ti que ya no eres quien ayer sonreía.
Cuatro estaciones tiene el tren en que viajamos
y en ninguna nos dejan detenernos.
Por odio de lo fácil detesto la aventura.
¿Qué mayor aventura que mirarte a los ojos
y ver en ellos juntas mi dicha y una lágrima?
¿Qué mayor aventura que no saber siquiera
si el día de mañana seguiremos con vida?
Aspiro a lo imposible: a la monotonía.



JOSÉ LUIS GARCIA MARTIN
Principios y finales
(1997)







Por ódio ao fácil detesto a aventura.
Que maior aventura do que abrir uma janela,
ver passar as nuvens enquanto passa a tarde,
acariciar-te o cabelo, deitar cedo,
escutar uma voz que canta noutro século?
Por ódio ao fácil. Deixa-me sorrir
de tantos que anelam o que não lhes faz falta.
Não se pisa duas vezes o mesmo lugar.
Ninguém abraça duas vezes a mesma pessoa.
Nunca se detém o navio que nos leva,
incansável nas voltas de sua viagem estelar.
Olha para mim: sou outro. E continuo a amar-te
a ti que não és já quem ontem sorria.
Quatro estações tem o trem em que viajamos
e em nenhuma nos deixam parar.
Por ódio ao fácil detesto a aventura.
Que maior aventura do que olhar-te nos olhos
e ver juntas neles minha sorte e uma lágrima?
Que maior aventura do que não saber sequer
se amanhã estaremos vivos?
Aspiro ao impossível: à monotonia.


(Trad. A.M.)

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23.2.12

António Gregório (American scientist)






AMERICAN SCIENTIST




Lemos que estava a expandir-se o universo e
imaginámos perplexos a quantidade
de espaço novo a dispor entre todos quando
bem contados nem somos muitos. Ela disse
com certeza calhar-nos-á algum e que era
um luxo quase imoral como tomar banho
de banheira cheia nestes meses de seca
prosseguirmos os dois à beira da fusão.


Numa carta electrónica de resposta à
minha o articulista garantiu que nada
se expande eternamente e no prazo de algumas
gerações estelares há-de o universo
encolher outra vez e que por isso o espaço
que nos aparta é só uma questão de tempo.


António Gregório


[A casa que caminha]


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22.2.12

José Ángel Barrueco (A queda do herói)






LA CAÍDA DEL HÉROE




Los felices márgenes de nuestra niñez, muchacho,
están repletos de héroes que rescatamos del cine,
la literatura, el cómic, la televisión

Tomamos a cada uno como modelo
para esculpir nuestra futura efigie

héroes de una pieza:
jesucristo superstar
luke skywalker
indiana jones
superman
bruce lee
batman
y sí,
un padre,
tu padre,
un hombre de carne y hueso
que no aparece en las películas
que trabaja y te cuida y ama a tu madre
y al que admiras desde tu insignificancia

pero un día,
muchacho,
descubres la verdad,
descubres el truco bajo la máscara

tu padre no es un héroe

a esas alturas, entrando en la adolescencia,
sabes que los héroes no insultan a sus hijos,
ni los humillan en público,
ni desprecian a sus novias,
ni gritan a sus madres
no, los héroes no hacen nada de eso
y es entonces, muchacho,
cuando la vida te da la primera hostia
cuando sabes que tu padre no es el héroe que esperabas:

no es luke skywalker
es, más bien, darth vader
y va a sepultar con su odio tu inocencia.



José Ángel Barrueco



[Apología de la luz]





As ditosas margens da infância, rapaz,
estão cheias de heróis que resgatamos do cinema,
da literatura, da televisão, da banda desenhada

Tomamos cada um por modelo
para esculpir nossa efígie futura

heróis de uma só peça,
jesus-cristo superstar
luke skywalker
indiana jones
superman
bruce lee
batman
e sim,
um pai,
o teu pai,
um homem de carne e osso
que não aparece nos filmes
que trabalha e trata de ti e ama tua mãe
e que admiras na tua insignificância

mas um dia,
rapaz,
descobres a verdade,
descobres o truque por baixo da máscara

o teu pai não é um herói

por essas alturas, entrando na adolescência,
sabes que os heróis não insultam os filhos,
nem os humilham em público,
não lhes desprezam as noivas,
nem gritam às mães
não, os heróis não fazem nada disso
e é então, rapaz,
quando a vida te dá a primeira hóstia,
que sabes que teu pai não é o herói que estavas à espera:

não é luke skywalker,
é antes darth vader
e vai sepultar com seu ódio a tua inocência.


(Trad. A.M.)

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21.2.12

Ver (88)








(Alfred Stieglitz)



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Jorge Espina (Responsabilidades)






RESPONSABILIDADES





Me gustaría recostar a Dios en mis rodillas
Y azotarle en las nalgas.
Dios es un niño malcriado.
Un niño caprichoso con más juguetes
De los que puede atender.
Tan solo somos muñecos abandonados
A los que arrancó los brazos su dueño,
Un juego de estrategia en el que no importan las bajas.


Me gustaría poner a Dios de rodillas, cara a la pared,
Ponerle unas enormes orejas de burro,
Mandarlo a la cama sin cenar,
Obligarlo a escribir un millón de veces:
Tengo que ser responsable,
Debo terminar mis tareas.
Lamentablemente Dios sólo es un niño malcriado,
No se le pueden pedir responsabilidades.
Habría que castigar a sus padres,
Aquellos que lo han creado.



Jorge Espina






Gostava de deitar Deus no meu colo
e dar-lhe uns açoites no rabo.
Deus é uma criança malcriada.
Uma criança birrenta que tem mais brinquedos
do que os que pode usar.
Nós cá somos apenas bonecos abandonados
aos quais o dono tirou os braços,
um jogo de estratégia em que as baixas não contam.


Gostava de pôr Deus de joelhos, de cara para a parede,
enfiar-lhe umas grandes orelhas de burro,
mandá-lo para a cama sem jantar,
obrigá-lo a escrever um milhão de vezes:
Tenho de ser responsável,
tenho de acabar os trabalhos.
Infelizmente Deus é apenas uma criança malcriada,
não se lhe podem pedir responsabilidades.
Era preciso castigar-lhe era os pais,
os que o criaram.



(Trad. A.M.)

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20.2.12

Antonio Cicero (Inverno)






INVERNO




No dia em que fui mais feliz
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir

de lá pra cá não sei
caminho ao longo do canal
faço longas cartas pra ninguém
e o inverno no Leblon é quase glacial.

Há algo que jamais se esclareceu:
onde foi exatamente que larguei
naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei?

Lá mesmo esqueci
que o destino
sempre me quis só
no deserto sem saudades, sem remorsos, só
sem amarras, barco embriagado ao mar.

Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar.


Antonio Cicero

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19.2.12

Joan Margarit (A partida)






LA PARTIDA




Definitivamente se trata de mi otoño,
un tiempo de alianzas imposibles,
la edad roja de todos los peligros
para hombres maduros y chicas solitarias.
La edad del adulterio y el olvido
sin ninguna esperanza, la edad fría,
la partida final contra uno mismo.
Permanezco en la mesa, sin esperar la suerte,
ya no cabe el azar en este juego.
Es el tiempo de hacer un solitario
con las cartas marcadas de la vida.


Joan Margarit





Definitivamente, é o meu Outono,
um tempo de alianças impossíveis,
a idade vermelha de todos os perigos
para homens maduros e miúdas solitárias.
A idade do adultério e do olvido
sem nenhuma esperança, a idade fria,
a partida final contra nós mesmos.
Mantenho-me à mesa, sem esperar a sorte,
neste jogo já não entra o azar.
É o tempo de fazer uma paciência
com as cartas marcadas da vida.


(Trad. A.M.)

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18.2.12

Manuel António Pina (Agora é diferente)






Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro


Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor


Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
isto agora demora



Manuel António Pina


[Poedia]


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Gsús Bonilla (Recompensa)






RECOMPENSA




no te engañes;
te ofrecen – a menudo –
el incentivo
del aplauso.
que te de
igual
que te importe
una mierda
que te sude
el coño, o por extensión
la polla.
somos viejos
- con concha de galápago -
y sabemos
de sobra
que quien se dedica
a calentarnos
es el sol.


Gsús Bonilla




não te enganes;
oferecem-te – amiúde –
o incentivo
do aplauso
que te seja
igual
e te importe
uma merda
e te sue
a cona, ou por extensão
a pila.
somos velhos
– com carapaça de cágado -
e sabemos
de sobra
que quem nos aquece
é o sol.


(Trad. A.M.)


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17.2.12

António Barahona (Alfarrabista)






ALFARRABISTA



Hoje comprei um livro de Raul de Carvalho
por um euro, o que considero um escândalo!
Os poetas, regra geral, sempre foram pobres,
mas a sua poesia vale muito mais do que
o peso de mil resmas de rouxinol em oiro.
Isto, evidentemente, pouca gente sabe.
Se muita gente soubesse
os poetas seriam todos ricos.


António Barahona



>>  Poéticas Contemporâneas (análise+9p) / Hospedaria Camões (5p) / Bibliotecário de Babel (4p) / Antonio Miranda (3p) / Revista Agulha (análise-M.E.Guedes)


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16.2.12

Eloy Sánchez Rosillo (Madrugada)






MADRUGADA




Acordaste de súbito. É Novembro. Dormiste
mal, de noite. E agora, aturdido, procuras
na mesa de cabeceira tabaco e lume,
às apalpadelas. Acendes um cigarro e olhas
para o relógio. Está frio no hotel. A alba
não vem ainda. Estás cansado. Chove.
E aqui, no escuro desagradável
deste quarto alugado, muito a sós
contigo mesmo, pensas na tua vida: nos anos
da juventude, no tempo
presente, tão vazio, e nesse não mais feliz
que porventura há-de vir.
O quarto
de um hotel pode às vezes levar quem nele,
acordado, se hospeda a pensar em certas coisas
inoportunas, tristes.
Chove com força. É noite
ainda. Estás só. Fumas outra vez. Pensas.
E tens muito frio. E não amanhece.



Eloy Sánchez Rosillo



(Trad. A.M.)

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15.2.12

Aquilino Ribeiro (A malha-2)






Bafoeiradas da aragem traziam pelos ares a moinha dos centeios padejados e o rescendor da macela e da labaça que ressequiram nos campos gadanhados.

Cortavam o céu alto bandos de pombos bravos e, descuidosas, mondando o grão caído da espiga gorda, cantavam na terra das searas a perdiz e a corcolher.

Já as cerejas tinham bichos e a cigarra emudecia longas horas, quebrantada de tanto zangarrear.

As manhãs, até toarem os manguais, eram dum silêncio que se sentia do mais pequeno tropel de tamancos estreloiçando nas ruas.

Ainda o sol, furando às espaldas dos montes do Carregal, não se livrava – é um modo de dizer – duma pedra bem mandada, já a eira estava a postos.

De chapelão de grande sombra, saiote vermelho e colete de atacadores, mulheres ajeitavam as cuanhas e estendiam mantas a toda a roda para caçar o grão respingueiro.

Outras preparavam a eirada com desatar os molhos e espalhar a palha em carreiras, tendo o cuidado de deixar as espigas bem ao léu, para que se embebedassem de sol – o sol que as criara e agora ajudava os manguais a enxotar o grão para fora de seus casulos.

E tão breve a palha aquecia, se punham em fila os malhadores.



- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 1.ª parte, II.


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Ángel González (Ontem)






AYER




Ayer fue miércoles toda la mañana.
Por la tarde cambió:
se puso casi lunes,
la tristeza invadió los corazones
y hubo un claro
movimiento de pánico hacia los
tranvías
que llevan los bañistas hasta el río.


A eso de las siete cruzó el cielo
una lenta avioneta, y ni los niños
la miraron.
Se desató
el frío,
alguien salió a la calle con sombrero,
ayer, y todo el día
fue igual,
ya veis,
qué divertido,
ayer y siempre ayer y así hasta ahora,
continuamente andando por las calles
gente desconocida,
o bien dentro de casa merendando
pan y café con leche, ¡qué
alegría!
La noche vino pronto y se encendieron
amarillos y cálidos faroles,
y nadie pudo
impedir que al final amaneciese
el día de hoy,
tan parecido
pero
¡tan diferente en luces y en aroma!


Por eso mismo,
porque es como os digo,
dejadme que os hable
de ayer, una vez más
de ayer: el día
incomparable que ya nadie nunca
volverá a ver jamás sobre la tierra.



Ángel González



[Escomberoides]





Toda a manhã ontem foi quarta-feira.
Pela tarde mudou,
fez-se quase segunda,
a tristeza invadiu os corações e houve um claro
movimento de pânico para os eléctricos
que levam os banhistas ao rio.


Aí pelas sete uma lenta avioneta
atravessou o céu e nem as crianças a olharam.
Soltou-se
o frio,
alguém saiu à rua com chapéu,
ontem, e todo o dia foi o mesmo,
estais a ver,
que divertido,
ontem e sempre ontem e isso até agora,
gente desconhecida
a andar pela rua continuamente,
ou então em casa a merendar, que alegria,
pão e café com leite.
A noite veio depressa e acenderam-se
candeeiros, amarelos e cálidos,
e ninguém pôde impedir
que no fim amanhecesse
o dia de hoje,
tão parecido
mas
tão diferente na luz e no aroma!


Por isso mesmo,
porque é assim como digo,
deixai-me falar-vos
de ontem, uma vez mais
de ontem, o dia
incomparável que nunca mais ninguém
voltará a ver jamais sobre a terra.


(Trad. A.M.)



> Outra versão: Cometas e estrelas (José Bento)


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14.2.12

Amadeu Baptista (Mil novecentos cinquenta e três)






MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E TRÊS




Logo no primeiro ano
estou só
e não me consigo manter de pé.


Se suspeitasse sequer
que iria ser assim para toda a vida
não me riria


com estas gargalhadas
cristalinas.



Amadeu Baptista



[Amadeu Baptista]





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13.2.12

José Gorostiza (Pausas)






PAUSAS


I

¡El mar, el mar!
Dentro de mí lo siento.
Ya sólo de pensar
en él, tan mío,
tiene un sabor de sal mi pensamiento.

II

No canta el grillo. Ritma
la música
de una estrella.
Mide
las pausas luminosas
con su reloj de arena.
Traza
sus órbitas de oro
en la desolación etérea.
La buena gente piensa
- sin embargo -
que canta una cajita
de música en la hierba.


José Gorostiza



I

O mar, o mar!
Em mim o sinto, cá dentro.
E só de pensar
nele, tão meu,
tem um gosto de sal meu pensamento.

II

Não canta o grilo. Ritma
a música
de uma estrela.
Mede
as pausas luminosas
com seu relógio de areia.
Traça-lhe
as órbitas de ouro
na desolação etérea.
As pessoas pensam
- todavia -
que é uma caixinha de música
a tocar entre a erva.


(Trad. A.M.)




>>  A media voz (19p) / Los poetas (10p) / Wikipedia


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12.2.12

Ver (87)







(Alfred Stieglitz)

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Ana Pérez Cañamares (Auto-retratos)






AUTORRETRATOS



Hay narcisistas de gayola
egocéntricos de soliloquios
ególatras de museo y obelisco
egoístas que siempre barren para casa
aunque ya no les quepa más mierda.

Luego estamos también
los que sólo pintamos
autorretratos
con paleta de colores oscuros.

Cuando están terminados
sacamos la navaja
y firmamos el lienzo
con una cicatriz
de esquina a esquina.



ANA PÉREZ CAÑAMARES
Alfabeto de cicatrices
(2010)



[Escrito en el viento]







Há narcisistas de gaiola
egocêntricos de solilóquios
ególatras de museu e obelisco
egoístas que varrem sempre para dentro de casa
embora já não lhes caiba mais merda.

Depois vimos nós também
os que só pintamos
auto-retratos
com paleta de cores escuras.

Quando estão terminados
puxamos da navalha
e assinamos a tela
com uma cicatriz
de canto a canto.


(Trad. A.M.)

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11.2.12

José Carlos Barros (Perder a memória)






perder a memória
como quem perde o barco que une as duas margens
dos rios
como quem procura no estrangeiro
a chave de casa
ou adormece na pedra
da lareira
com o rosto encostado
ao efémero tempo dos incêndios


chove de novo
desenhas nas partes em branco dos
mapas dos naufrágios
um território
que não existe


José Carlos Barros


[Casa de Cacela]


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10.2.12

Francisco Hernández (Alto contraste)






ALTO CONTRASTE



1
de tus axilas brotan poemas ciegos
como murciélagos de una cueva
en el fondo del mar

2
bastará con mirarte
para que tus pechos se agiganten
y de ellos desciendan
los elefantes de Aníbal
para pisotearme


Francisco Hernández



[Noctambulario]



1
brotam poemas cegos de tuas axilas
como de uma gruta morcegos
no fundo do mar

2
basta olhar-te
para teus seios se agigantarem
e deles descerem os elefantes de Aníbal
para me pisarem

(Trad. A.M.)

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9.2.12

Coitado do Jorge (75)






DISCRIMINAÇÃO




Violeta C. Rangel, convidada na Póvoa (Correntes d’Escritas, Mesa 5, 24.2.2012, 22h00)?


Olha lá, se convidam a Josefa Parra!


Ou a Paz Hernández!...

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Álvaro Mutis (Como espadas em desordem)






Como espadas en desorden
la luz recorre los campos.
Islas de sombra se desvanecen
e intentan, en vano, sobrevivir más lejos.
Allí, de nuevo, las alcanza el fulgor
del mediodía que ordena sus huestes
y establece sus dominios.
El hombre nada sabe de estos callados combates.
Su vocación de penumbra, su costumbre de olvido,
sus hábitos, en fin, y sus lacerias,
le niegan el goce de esa fiesta imprevista
que sucede por caprichoso designio
de quienes, en lo alto, lanzan los mudos dados
cuya cifra jamás conoceremos.
Los sabios, entretanto, predican la conformidad.
Sólo los dioses saben que esta virtud incierta
es otro vano intento de abolir el azar.



Álvaro Mutis



[Poemas y poetas]





Como espadas em desordem
é a luz que percorre os campos.
Ilhas de sombra que se esfumam
e tentam, em vão, sobreviver mais além.
Aí de novo as alcança o fulgor
do meio-dia, que ordena as hostes
e estabelece seus domínios.
O homem nada sabe destes calados combates.
Sua vocação de sombra, seu costume de olvido,
seus hábitos, enfim, suas misérias,
negam-lhe o gozo dessa festa imprevista
devida ao caprichoso desígnio
dos que, lá em cima, lançam os mudos dados
cuja soma jamais conhecemos.
Os sábios, entretanto, predicam a conformidade.
Só os deuses sabem que esta virtude incerta
é outro vão intento de abolir o acaso.



(Trad. A.M.)

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8.2.12

Alberto de Lacerda (A manhã é um leque)






A manhã é um leque
branco
desdobrado até
aos quatro pontos cardiais


Sol branco
imperador fraterno
do azul muito ténue




ALBERTO DE LACERDA
Átrio
IN-CM (1997)

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7.2.12

Ana Montojo Micó (Encerrado para inventário)






CERRADO POR RECUENTO



Si pudiera vivir nuevamente mi vida, en la próxima trataría de cometer más errores (se atribuye a Jorge Luis Borges)


Yo, al revés que el poeta, cometí
casi tantos errores como pude,
si por error se entiende
dejar el corazón a la intemperie,
expuesto a toda suerte de peligros
salvo el de ser feliz y acostumbrarme.

A gala tengo
haberme equivocado muchas veces
sin haber aprendido casi nada,
y permitirme el lujo de estrenar
en cada amanecer
una nueva derrota reluciente.

He bebido el ahora de manera insensata;
como si cada día fuera el último
del resto de mi vida
y el futuro tan solo se tratase
de un incierto espejismo.

Hice mal casi todo lo importante:
no ahorré ni una peseta,
fumé, no hice deporte,
y hasta me enamoré de algún extraterrestre
sin requerir informes de solvencia.

Tuve hijos
y no los preparé para el mañana;
me limité a quererlos mucho más
de lo que hubiera sido razonable.

Y ya estoy
instalada de golpe en el futuro
sin chaleco antibalas, sin fortuna,
sin refugio antiatómico siquiera
que pueda protegerme
de la lluvia de abril y de tus ojos,
amor ...y de tus ojos.



Ana Montojo Micó


[El humo ciega mis ojos]




Eu, ao contrário do poeta, fiz
quase tentos erros como pude,
entendendo por erro
deixar o coração à intempérie,
exposto a todos os perigos
salvo o de ser feliz e habituar-me.

Gabo-me de
que me enganei muita vez
sem aprender quase nada,
e dei-me ao luxo de estrear
em cada manhã
uma nova derrota reluzente.

Bebi o agora de modo insensato,
como se cada dia fosse o último
do resto da minha vida
e o futuro apenas fosse
uma incerta miragem.

Tudo o que era importante fiz mal,
nem uma peseta poupei,
fumei, não fiz desporto,
e até me enamorei de um extraterrestre
sem exigir abonação financeira.

Tive filhos
e não os preparei para o amanhã,
limitei-me a amá-los muito mais
do que seria razoável.

E eis-me
de repente instalada no futuro
sem colete anti-bala, sem fortuna,
sem abrigo atómico sequer
que possa proteger-me
da chuva de abril e dos teus olhos,
amor... e dos teus olhos.


(Trad. A.M.)


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6.2.12

Aquilino Ribeiro (A malha-1)







Manhã cedo, mal o sol, bravio que nem enxame de abelhas alvoriçado, pulava detrás dos montes, goela forte bradava do alto pináculo da meda: à eira-aaa-aa-a!

Aquilo ouvia-se em grande raio pelo povo e suas abas, como os sinos de Toledo.

E logo de cada canto rompiam os malhadores, lépidos e pontuais como quem acode a um toque de guerra.

Calça branca de estopa, para gargantilha um lenço de mulher, esfraldado sobre os ombros por mor de paraganas, sol e moscas, irmãos danados a ferrar, a grenha das pomas a espirrar dos bofes da camisa, uns após outros, enchiam os caminhos dormentes que levam às eiras.

Todos descalços – que nem carne de Ferrabrás aturava pés calçados de sol a sol, na trabuzana – apenas se ouviam suas vozes marulhar ásperas na corrente remansosa da madrugada.


- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 1.ª parte, II.

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Ana Merino (Vida de lagartixa)






VIDA DE LAGARTIJA



Yo quise ser animal casero
con vistas a la playa
pero soy lagartija y habito entre las grietas
de una roca volcánica en medio del desierto.


A veces alguien corta el final de mi cola
y allí quedan mis sueños moviéndose nerviosos
creyendo que están vivos.


Yo soy como las horas que pierden los domingos
acaricio el descanso metido entre las sábanas
y espero a que amanezcan los días de diario.


La vida es un enigma del que sólo descifro
un trozo de esperanza
lo miro de reojo y nunca me detengo
porque temo al acecho de los tirachinas
o la sombra de un gato.



Ana Merino





Eu que quis ser um animal doméstico
com vistas de praia
sou uma lagartixa e habito nas fendas
de uma rocha vulcânica em pleno deserto.


Às vezes corta-me alguém a ponta da cauda
e ali ficam meus sonhos mexendo-se nervosos
a pensar que estão vivos.


Eu sou como as horas de domingo perdidas
engalho o descanso metido entre lençóis
e espero que amanheçam os dias de cote.


A vida é um enigma de que decifro só
um trecho de esperança
olho-o de lado e jamais me detenho
porque temo o assédio das fisgas
assim como a sombra dum gato.



(Trad. A.M.)

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5.2.12

Casimiro de Brito (Se o mundo não tivesse palavras)






Se o mundo não tivesse palavras
a palavra do mar, com toda a sua paixão,
bastava. Não lhe falta
nada: nem o enigma nem
a obsessão. Entregue ao seu ofício
de grande hospitaleiro
o mar é um animal que se refaz
em cada momento.
O amor também. Um mar
de poucas palavras.



Casimiro de Brito


[Poedia]

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4.2.12

Amalia Bautista (Afinal)






AFINAL




Afinal, são muitos poucas as palavras
que deveras nos ferem, e muito poucas
as que conseguem alegrar-nos a alma.
E são também muito poucas as pessoas
que nos tocam o coração, e menos
ainda as que nos tocam por muito tempo.
Afinal, pouquíssimas são as coisas
que importam de verdade na vida,
poder amar alguém, que nos amem a nós
e não morrermos depois dos nossos filhos.


Amalia Bautista



(Trad. A.M.)



> Outras versões: Um buraco na sombra (J.M.Magalhães) /  A natureza do mal (Luís Januário)

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2.2.12

Albano Martins (Ânfora)






ÂNFORA




Regressas às vezes, quando é noite, ao lugar
onde sempre te demoras.
Levas ao ombro uma ânfora a que sorveste os
sumos dia-a-dia nela derramados: água e vinho,
o leite das amoras e dos figos, o licor almiscarado
das cerejas e das ginjas. E a sede, essa substância
de todas a mais viva.
Queres agora encher novamente o vaso.
A água e o vinho secaram na haste e na fonte,
a ânfora está quebrada e os dedos já não seguram
sequer os cacos que apenas sobrevivem.


Albano Martins



[Sons da Escrita]

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1.2.12

Alejandra Pizarnik (Peregrinação)






PEREGRINAJE



Llamé, llamé como la náufraga dichosa
a las olas verdugas
que conocen el verdadero nombre
de la muerte.

He llamado al viento,
le confié mi deseo de ser.

Pero un pájaro muerto
vuela hacia la desesperanza
en medio de la música
cuando brujas y flores
cortan la mano de la bruma.
Un pájaro muerto llamado azul.

No es la soledad con alas,
es el silencio de la prisionera,
es la mudez de pájaros y viento,
es el mundo enojado con mi risa
o los guardianes del infierno
rompiendo mis cartas.

He llamado, he llamado.
He llamado hacia nunca.


Alejandra Pizarnik



[Escomberoides]




Chamei, chamei como a náufraga ditosa
as ondas assassinas
que sabem o verdadeiro nome
da morte.


O vento chamei,
confiei-lhe meu desejo de ser.


Mas um pássaro morto
voa para o desespero
a meio da música
quando bruxas e flores
cortam a mão da bruma.
Um pássaro morto chamado azul.


Não é a solidão alada,
é o silêncio da cativa,
é a mudez de pássaros e vento,
é o mundo enojado com meu riso
ou os guardiães do inferno
rasgando minhas cartas.


Chamei, chamei.
Chamei para o nunca.



(Trad. A.M.)

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