(Os melhores são os homossexuais, mas cuidado...)
Eis algo sobre a honra dos poetas.
Eu tinha dezassete anos e um desejo irreprimível de ser escritor.
Preparei-me.
Mas não fiquei quieto enquanto me preparava, pois compreendi que se assim fizesse jamais triunfaria.
Disciplina e um certo encanto dúctil, essas são as chaves para chegar onde se quer.
Disciplina: escrever todas as manhãs, não menos de seis horas.
Escrever de manhã e corrigir de tarde, à noite ler como um possesso.
Encanto, ou encanto dúctil: visitar os escritores em casa, ou abordá-los nas apresentações de livros e dizer a cada um exactamente aquilo que ele quer ouvir.
Aquilo que ele quer desesperadamente ouvir.
E ter paciência, pois nem sempre funciona.
Há cabrões que te dão uma palmada no ombro e, depois, se te vi não me lembro.
Há cabrões duros e cruéis e mesquinhos.
Mas não são todos assim.
É necessário ter paciência e procurar.
Os melhores são os homossexuais, mas cuidado, é preciso saber em que momento parar, é necessário saber com precisão o que é que se quer, de contrário pode-se acabar enrabado debalde por qualquer mariconço de esquerda.
Com as mulheres acontece três quartas partes das vezes o mesmo: as escritoras espanholas que te podem dar a mão são velhas e feias, e o sacrifício às vezes não vale a pena.
Os melhores são os heterossexuais já entrados nos cinquenta ou no umbral da velhice.
Em qualquer caso, é iniludível cultivar um jardim à sombra dos seus rancores e ressentimentos.
Evidentemente, há que empinar as suas obras completas, citá-los duas ou três vezes em cada conversa, citá-los sem descanso.
- ROBERTO BOLAÑO,
Os detectives selvagens, II. Marco António Palacios, Jul. 1994.
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