8.8.07

Herberto Hélder (Se houvesse degraus...)





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SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA...






Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.




Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.




Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.



Herberto Hélder



Fontes: As Tormentas (20p+ficha) / Um-buraco-na-sombra (14p+bio) / CITI (bio e +) / Arlindo Correia (5p+ficha) / Lídia Aparício (7p) / Triplo V (5p+ensaios) / IPLB (bio+biblio+excertos+linques) / Poesias e prosas (5p) / nEscritas (5p) / Porto-de-abrigo (12p)
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