(Outro dia a romper…)
Estava a limpar de todo a manhã, e pelas faxas lés a lés do Oriente, agora da cor do pálio, vinha lá um sol criador.
Estava a limpar de todo a manhã, e pelas faxas lés a lés do Oriente, agora da cor do pálio, vinha lá um sol criador.
Falava gente pelas portelas, e suas vozes, na rijeza do ar, pareciam sopradas por canudos de lata.
A folha despedia por ali abaixo, coberta de verde, mal amarelejando, de trato em trato, a tez maninha dos pousios.
No souto, que fechava a vista a uma banda, o cuco erguia, muito pausado como a afinar, o seu canto mofareiro.
Fuminhos de névoa voltejavam, ao fundo sobre o Paiva, leves que nem velo de ovelhas brancas, tirado da carda.
Vinha o sol e lambia aquilo mais depressa que a uma laranja o viandante que tem sede.
- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, ed. 1963, p. 155.
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