É mais fácil de longe imaginar
o que seria ter-te aqui presente
do que seria ter-te e não saber
com que forma de corpo receber-te.
Talvez um amplo véu oriental
ou o brilho mental de uma armadura
me deixassem arder sem ser molesto
no lume horizontal de uma figura.
Se te vejo, já está o meu desejo,
enquanto estavas longe, satisfeito;
no teu olhar encontro tudo quanto
à altura de amor é mais perfeito.
E no entanto, perto, fico incerto
se não é melhor bem o que imagino.
ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE
Duende(2002)
BIOGRAFIAAntónio Franco Alexandre nasceu em 1944, em Viseu, onde viveu até ir para Toulouse (França), estudar Matemática, aí vivendo até 1969.
Partiu depois para Harvard para continuar a estudar Matemática.
Regressou em 1971 a França, desta vez Paris.
Em 1975, com um doutoramento em Matemática, voltou a Portugal e foi convidado para leccionar Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Estreou-se como poeta ainda na década de sessenta, mas foi sobretudo a partir da publicação de "Sem Palavras nem Coisas" (1974) que a sua obra se afirmou, com um «discurso centralmente inovador», segundo Joaquim Manuel Magalhães, numa poesia que cruza diversas referências culturais.
Considerado por Óscar Lopes a melhor revelação poética dos anos oitenta, António Franco Alexandre surpreende por uma ostensiva negação dos valores lógicos do discurso: não se trata nem do não-sentido surrealista que encontra a sua ordem na própria desordem do inconsciente, nem do
nonsense que procura pelo absurdo colocar em causa a possibilidade de comunicação da linguagem delida pelo seu uso quotidiano; mas, como propõe Óscar Lopes, de um “pré-sentido, ou pré-percepção, um breve indício de sentido”, que confere a impressão de “uma poesia do subliminar, mas de um subliminar que todavia acede à palavra, como configuração semi-inteligível e todavia flagrante”.
Em 1996 reuniu toda a sua poesia (com excepção do primeiro livro, "Distância") no volume "Poemas", e em 1999 publicou "Quatro Caprichos", ao qual foi atribuído o Prémio APE de Poesia 1999.
Franco Alexandre, que na poesia portuguesa contemporânea não se sabe situar – "Não sei quem é a minha família, não sei se existe..." – continua a tomar como influência maior os grandes textos bíblicos.
Foi para os poder ler que esteve diversas vezes em Jerusalém a estudar hebraico. "É uma cultura que hoje quase desconhecemos...", diz ele.
Obras: "A Distância" (1969), "Dos Jogos de Inverno", "Sem Palavras Nem Coisas" (1974), "Os Objectos Principais" (1979), "Visitação" (1982), "A Pequena Face" (1983), "As Moradas 1&2" (1987), "Oásis" (1992), "Poemas" (1996), "Les Objets Principaux" (1996), "Quatro Capricho" (1999).
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