18.4.06

Jorge de Sena (Uma pequenina luz)






UMA PEQUENINA LUZ




Uma pequenina luz bruxuleante
Não na distância brilhando no extremo da estrada
Aqui no meio de nós e a multidão em volta
Une toute petite lumière
Just a little light
Una picolla... em todas as línguas do mundo
Uma pequena luz bruxuleante
Brilhando incerta mas brilhando
Aqui no meio de nós
Entre o bafo quente da multidão
A ventania dos cerros e a brisa dos mares
E o sopro azedo dos que a não vêem
Só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequenina luz
Que vacila exacta
Que bruxuleia firme
Que não ilumina apenas brilha
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
Como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
Não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não: brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
Como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.


Jorge de Sena


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