26.11.25

Pedro Flores (Cair)




CAER

 

Caer bien, con clase.
No desfallecer,
ni desmayarse,
ni derrumbarse,
ni trastabillar,
ni doblar la cerviz.
Caer como un roble en sus dominios
después de cien años mirando al Sol
frente a frente.
 

Pedro Flores

 


Cair bem, com classe.
Não desfalecer,
nem desmaiar,
nem desmoronar,
nem tropeçar,
nem dobrar a cerviz.
Cair como um carvalho em seu domínio
depois de cem anos a olhar o sol
cara a cara.


(Trad. A.M.)


>>  Hector Castilla (+66p) /  Octavo Boulevard (6p) / Zenda-1 (5p) / Zenda-2 (5p) / La Literatura (4p) / Trasdemar (3p) /  Wikipedia


25.11.25

Ángel Campos Pámpano (Entrar em casa)




Entrar en casa
como animal que acude
a su refugio.
Y buscar en la sombra
otra sombra que duerme.

Ángel Campos Pámpano 

 

Entrar em casa
como animal que volta
a seu refúgio,
e buscar na sombra
outra sombra que dorme.


(Trad. A.M.)

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23.11.25

Álamo Oliveira (Lua de ganga)



LUA DE GANGA


quando te via
na ganga azul do teu fato
embandeirava-me de ternura
e propunha despir-te como
se lua fosses ou nada

tocava
com a ponta dos dedos
o poema do teu corpo

era azul mas eu morria de medo


Álamo Oliveira

[RTP- Açores]

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21.11.25

Amalia Bautista (A pesagem do coração)




EL PESAJE DEL CORAZÓN


Que nadie por tu culpa haya pasado hambre,
haya sentido miedo o frío.
Que nadie haya dejado de vivir por tu culpa,
ni temido la muerte, ni deseado morir.
Que ninguno haya dicho tu nombre con espanto
o mirado tu rostro con desprecio.
Que los demás te lloren cuando partas.
Así tu corazón no habrá albergado el plomo
que lastra las mudanzas.
Así tu corazón será más leve
que la más leve pluma.

Amalia Bautista 

 

Que ninguém passe fome por tua culpa,
nem sinta medo ou frio.
Que ninguém deixe de viver por tua causa,
nem tema a morte ou queira morrer.
Que ninguém diga teu nome com espanto
ou olhe com desprezo a tua cara.
Que os outros te chorem quando morras.
Assim teu coração não guardará
o chumbo que é o lastro das mudanças.
Assim teu coração será mais leve
que a mais ligeira pluma.


(Trad. A.M.)

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20.11.25

Álvaro Cunqueiro (Meti meus dias)




Metí todos mis días en un hatillo remendado
y me eché a andar.
Yo mismo hacía los caminos que me llevaban
lejos, mas allá de los bosques,
por la orilla del mar, por el mar mismo.
Y en el hatillo, al lado de los días míos,
—infancia, juventud, madurez, vejez—
iba metiendo el pan de las limosnas.
Alguna vez el pan estaba aún caliente y al tocarlo
resucitaba un día mío en el que, muy joven,
vi a una mujer hermosa que cogía flores en el jardín.
En el sur me agasajaban con vasos de vino.
Pero ya es tiempo de volver. Me canso, y ya no sé soñar.
Como una colmena hendida por un rayo
ya no enjambran las abejas en verano
dentro de mí. Sueños no hay, ni inquietudes.
En la vieja casa haré lumbre y le contaré a las llamas
de qué modo muere un vagabundo.

Álvaro Cunqueiro

 


Meti meus dias numa trouxa remendada
e pus-me a andar.
Eu mesmo fazia os caminhos que me levavam
longe, além dos bosques,
pela beira do mar, pelo mar mesmo.
E na trouxa, ao pé dos dias
– infância, juventude, maturidade, velhice –
ia metendo o pão da esmola.
Às vezes o pão estava quente ainda e ao tocar-lhe
ressuscitava aquele dia em que, muito jovem,
vi uma mulher bela colhendo flores no jardim.
No sul recebiam-me com copos de vinho.
Mas é tempo já de voltar, canso-me e nem sei já sonhar.
Como uma colmeia fendida por um raio,
não fazem já enxame as abelhas no verão
dentro de mim. Sonhos não há, nem inquietação.
Acenderei lume na casa velha e contarei às chamas
de que modo morre um vagabundo.


(Trad. A.M.)

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18.11.25

Alessandro Celani (Faz-te feroz, poesia)



Faz-te feroz, poesia
quando ferozes são os tempos
Aprende com os animais por esses campos
como matam e são mortos
Aprende com o tempo que vem em auxílio
de quem está morto já
Não vás nas cantigas dos poetas
diz a verdade sobre a morte
quem matou e quem foi morto
nome por nome
 

Alessandro Celani

(Trad. A.M.)

[Interno Poesia]

 

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16.11.25

Antonio Orihuela (O mundo fantástico)




O MUNDO FANTÁSTICO DA SARDINHA PORTUGUESA


Dois milhões de pobres
e latas de sardinha a nove euros.

Chamemos-lhe liberalismo.


Antonio Orihuela

 (Trad. A.M.)

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