19.11.24

Elías Moro (A mala do viajante)




LA MALETA DEL VIAJERO 

 

En esta maleta guardo mis cosas:
el viejo pijama, regalo de mi madre, que nunca me puse,
un trozo de sol en el hombro de ella,
una piedra que sabe del agua más que los peces mismos,
los primeros dientes que mis hijas perdieron,
poemas de amigos que ya no son ni están, pero permanecen,
los ojos, también de ella, cuando anochece,
un telegrama que anuncia desastres,
el jersey de lana de un amigo muerto,
una música antigua de violines y pianos,
la voz de ella para hablarme de todo esto allá donde vaya
y una cuerda de cáñamo
por si tengo que huir de mí mismo
o ajusticiar a un miserable.
Espero no haberme olvidado de nada:
siempre se olvida algo al cerrar una maleta,
pero nada es importante si se olvida.
 

Elias Moro

  

Nesta mala eu guardo as minhas coisas,
o velho pijama, que nunca usei, presente da minha mãe,
uma réstea de sol no ombro dela,
uma pedra que sabe da água mais do que os próprios peixes,
os primeiros dentes caídos das minhas filhas,
poemas de amigos que já não são nem estão, mas permanecem,
os olhos, também dela, quando anoitece,
um telegrama a anunciar desastre,
o casaco de lã dum amigo falecido,
uma música antiga de piano e violino,
a voz dela a falar-me de tudo isto lá onde for
e uma corda de cânhamo,
para o caso de ter de fugir de mim mesmo
ou justiçar um miserável.
Espero não me ter esquecido de nada,
sempre se esquece algo ao fechar a mala,
mas nada é importante se se esquece.
 

(Trad. A.M.)

 .

18.11.24

Ape Rotoma (Ambições)




AMBICIONES

 

Cuando uno ve con claridad
(y supongo que eso ocurre más
o menos pronto, según)
que conseguir lo que realmente
le gustaría es imposible, uno
siente un gran alivio. ¿Para qué
hacer cosas que solo arreglan
las cosas de forma parcial
o ni eso, con lo que cuestan?
Lo lúcido es pasar de todo
y esperar sentado el milagro
o la muerte, lo que llegue antes.

Ape Rotoma

 

Quando vemos com clareza
(e suponho que seja mais
ou menos depressa, consoante)
que é impossível conseguir
o que realmente gostaríamos,
sentimos um grande alívio. Para quê
fazer coisas que só resolvem
os problemas de forma parcial
ou nem isso, com aquilo que custam?
O melhor é desligar de tudo
e esperar sentado o milagre
ou a morte, o que vier primeiro.

(Trad. A.M.)

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16.11.24

Eucanaã Ferraz (Outono)




OUTONO



Na terra de Whitman,
conheci o outono
-o rosto incendiado do outono.
Quando viver e morrer
são a mesma fagulha
em cada folha.


Eucanaã Ferraz

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14.11.24

Andrés Trapiello (O passado)




EL PASADO 

 

Hay cosas sólo mías, una tarde 
con mi padre en Carrizo y sus trasmallos 
furtivos en el Órbigo 
y una mañana en Vegas del Condado, 
junto al viejo molino en cuya cueva 
se combinaba un estraperlo cándido. 
Días irrepetibles en Pedrún, 
en Matueca, en Nocedo y en el Páramo, 
y no sólo en la infancia, en la posguerra, 
en la indefinición de aquellos años, 
sino en estos de ahora. Ella me dijo 
un día que me amaba. Aquel abrazo, 
aunque no lo recuerde ni siquiera, 
es mío inexplicablemente. Y cuanto 
fue dándome la vida generosa 
para luego quitármelo, 
no menos generosa, como propio 
lo tengo. Este feliz fosco collado 
de olivos y lagares entre ortigas, 
el ladrido del perro tan lejano 
y el silencio de ayer y este silencio. 
Mi alma hace recuento. 
No cabe en una vida su pasado.


Andrés Trapiello

  

Há coisas só minhas, uma tarde
com meu pai no Carrizo e suas redes
furtivas no rio Órbigo
e uma manhã em Vegas del Condado,
ao pé do velho moinho em cuja gruta
se combinava um contrabando inocente.
Dias irrepetíveis em Pedrún,
em Matueca, em Nocedo e no Páramo,
e não só na infância, no pós-guerra,
na indefinição desses anos,
também nestes de agora. Um dia
ela disse que me amava. Aquele abraço,
embora já nem o lembre sequer,
é meu inexplicavelmente. E tudo o que
me foi dando a vida generosa,
para depois mo tirar,
não menos generosa, tudo isso
como próprio o tenho. Aquele outeiro
fusco de olivais e lagares entre ortiga,
o latido do cão tão distante 
e o silêncio de ontem e este silêncio agora.
Minha alma faz inventário,
não cabe numa vida seu passado.
 

(Trad. A.M.)

 .

13.11.24

Efraín Huerta (Che)




CHE

 

Para Eugenia Huerta

 

En
La
Calle
Deben
Pasar
Cosas
Extraordinarias

Por
Ejemplo
La
    REVOLUCIÓN


Efraín Huerta

  

Na
rua
devem
dar-se
coisas
extraordinárias

Por
exemplo
a
     REVOLUÇÃO


(Trad. A.M.)

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11.11.24

Salvatore Quasimodo (Minha pátria é Itália)




IL MIO PAESE È' L' ITALIA 

 

Piu’ i giorni s’allontanano dispersie 
piu’ ritornano nel cuore dei poeti.
La’ i campi di Polonia, la piana di Kutno
con le colline di cadaveri che bruciano
in nuvole di nafta, la’ i reticolati
per la quarantena d’Israele,
il sangue tra i rifiuti, l’esantema torrido,
le catene di poveri gia’ morti da gran tempo
e fulminati sulle fosse aperte dalle loro mani,
la’ Buchenwald, la mite selva di faggi,
i suoi forni maledetti; la’ Stalingrado,
e Minsk sugli acquitrini e la neve putrefatta.
I poeti non dimenticano. Oh la folla dei vili,
dei vinti, dei perdonati dalla misericordia!
Tutto si travolge, ma i morti non si vendono.
Il mio paese e’ l’Italia, o nemico piu’ straniero,
e io canto il suo popolo e anche il pianto
coperto dal rumore del suo mare,
il limpido lutto delle madri, canto la sua vita.
 

Salvatore Quasimodo 

[Otra iglesia] 

 

Mais se afastam os dias dispersos,
mais voltam ao coração dos poetas.
Lá longe os campos da Polónia, o plaino de Kutno
com seus montes de cadáveres ardendo
em nuvens de nafta, lá os arames
para a quarentena de Israel,
o sangue enrre o lixo, o exantema insofrido,
os grilhões de pobres mortos há muito
e fuzilados nas fossas abertas por suas mãos,
lá Buchenwald, o ameno bosque de faias, 
os malditos fornos; lá Estalinegrado,
e Minsk dos pântanos e da neve putrefacta.
Os poetas não esquecem. Oh, a multidão dos maus,
dos vendidos, dos perdoados por piedade!
Tudo se atropela, mas os mortos não se vendem.
Minha pátria é a Itália, ó estrangeiro inimigo,
e eu canto seu povo e também o pranto
coberto pelo barulho do mar,
o límpido luto das mães, canto-lhe a vida.
 

(Trad. A.M.)

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9.11.24

Efi Cubero (Ramo)




RAMA

 

Aérea como la rama,
a veces soy la rama y soy espacio,
y cuando me agazapo en los retornos
que irradian esa luz sin movimiento,
soy esa misma tierra o el sustrato.
La mezcla tan antigua
de otros latidos que me precedieron.


Efi Cubero

 

 

Aérea como o ramo,
às vezes sou o ramo e sou espaço,
e quando me agacho nos retornos
que irradiam essa luz sem movimento,
sou essa mesma terra ou o substrato.
A mistura tão antiga
de outros latejos antes de mim.


(Trad. A.M.)

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