18.12.25

Andrea Cohen (Sem lua, mas)

 



NO MOON, BUT

 

I Knew it was
the beekeeper

who touched me,
not because she

tasted of honey,
but because she

was unafraid
of being stung.


Andrea Cohen

  

Soube que fora
a apicultora

que me tocara,
não porque ela

soubesse a mel,
mas porque

não tivera medo
de ser picada.


(Trad. FJCC)

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16.12.25

Antonio Gamoneda (Sinto o crepúsculo)

 



Siento el crepúsculo en mis manos.
Llega a través del laurel enfermo.
Yo no quiero pensar ni ser amado
ni ser feliz ni recordar.

Sólo quiero sentir esta luz en mis manos
y desconocer todos los rostros
y que las canciones dejen de pesar en mi corazón
y que los pájaros pasen ante mis ojos
y yo no advierta que se han ido.

Hay grietas y sombras en paredes blancas
y pronto habrá más grietas y más sombras
y finalmente no habrá paredes blancas.

Es la vejez.
Fluye en mis venas como agua atravesada por gemidos. Van
a cesar todas las preguntas. Un sol tardío
pesa en mis manos inmóviles y a mi quietud
vienen a la vez suavemente, como una sola sustancia,
el pensamiento y su desaparición.

Es la agonía y la serenidad.
Quizá soy transparente y ya estoy solo sin saberlo.
En cualquier caso, ya
la única sabiduría es el olvido.
 

Antonio Gamoneda 

 

Sinto o crepúsculo nas mãos,
chegando através do cravo doente.
E eu não quero pensar, nem ser amado,
nem ser feliz, nem recordar. 

Quero só sentir esta luz nas mãos
e desconhecer os rostos
e que as canções deixem de pesar-me no coração
e os pássaros me passem diante dos olhos
sem eu dar conta de que se foram. 

Há fendas e sombras nas paredes brancas
e breve haverá mais sombras e fendas
até deixar de haver paredes brancas. 

É a velhice.
Corre-me nas veias como água
atravessada por gemidos.
Cessarão as perguntas todas. Um sol tardio
pesa-me nas mãos imóveis, enquanto
o pensamento e a sua negação invadem,
à uma, a minha quietude. 

É a agonia e a serenidade.
Sou talvez transparente e já estou só, sem saber.
Em qualquer caso, há uma só sabedoria,
a do esquecimento.
 

(Trad. A.M.)

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15.12.25

Antonio Fernández Lera (Viver pior)

 



(48)

 

Viver pior
Sofrer mais
Dizê-lo
Não dizer
 

ANTONIO FERNÁNDEZ LERA
Poemas lentos 
(2012-18)
 

(Trad. A. M.)

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13.12.25

Amadeu Baptista (Faca)

 



FACA 

 

Vou constituir-te arguida
pelo assassinato dos meus sonhos.
O êxtase consentia-te
juras de amor, mas a verdade 

é que o amor é coisa ilimitada
e tu premeditavas dar-me
ao abandono, mais dia
menos dia. Aberta uma romã 

o mais que se consente
é usufruir dos brilhos que ela dá 
e agradecer ao templo escarlate  

em que nos foi permitido entrar. 
E não este desgosto, esta faca malsã 
que marca a tua ausência na minha pele.
 

Amadeu Baptista 

 .

11.12.25

Antonio Cabrera (Face ao outono)





ANTE EL OTOÑO             



De la luz del otoño
extraigo alguna consecuencia,
un cimiento menor para estas convicciones:
que la vida es más lenta de lo que suponemos,
que su afamado brillo
nos impone la espera de lo bello inmutable
(y es acaso un error, quizá una burla),
que las tardes contienen una fracción de hiel,
que donde haya renuncia habrá milagro…
Cosas que ya sabía.
En la luz del otoño me ha parecido verlas.


Antonio Cabrera

[Futbol de poetas]

  

Da luz do outono
extraio uma certa consequência,
um cimento menor para estas convicções:
que a vida é mais lenta do que nós supomos,
que seu famigerado brilho
impõe-nos a espera do belo imutável
(e é um erro porventura, um logro),
que as tardes contêm uma parte de fel,
que onde haja renúncia haverá milagre...
Coisas que eu já sabia,
na luz do outono pareceu-me que as vi.


(Trad. A.M.)

 

10.12.25

Antonio Deltoro (Uma árvore)





UN ÁRBOL



Un árbol ancho,
donde no cante el pájaro, 
ni las ardillas suban,
ni se esconda inquietud.

Un árbol que vaya ganando calma
como los otros altura y espesor.

Quiero plantar un árbol de silencio
y sentarme a esperar
a que sus frutos caigan.

Antonio Deltoro 

 

Uma árvore grande,
onde não cante o pássaro,
nem subam esquilos,
nem se esconda inquietação.

Uma árvore que vá ganhando calma
como as outras porte e espessura.

Quero plantar uma árvore de silêncio
e sentar-me à espera
que os frutos lhe caiam.


(Trad. A.M.)

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8.12.25

Alessandro Celani (Por muito que batalhes)




Por muito que batalhes
o ir e o voltar
o juntar e o separar
o estar com e o estar sem
o recordar e o esquecer
hão-de fazer-se de pedra
e as pedras edifício
e quão difícil te será deixar
a vida que pensas que não viveste
(tu estrangeiro nela
e ela não 
em ti)

Alessandro Celani

(Trad. A.M.)

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