23.6.25

Tanussi Cardoso (Dos significados)




DOS SIGNIFICADOS

 

É o poema aquilo que tentamos
        ou seus tentáculos?

É o poema labirinto de encantos
        ou esfinge de desencontros?

É o poema o que possuímos
        ou o que está solto?


Tanussi Cardoso

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21.6.25

Mario Montalbetti (Desculpe, a tabacaria?)




DISCULPE, ¿ES AQUÍ LA TABAQUERÍA?

 


Nadie dice todo. Nadie dice nada.
Lo deseable es decir poquísimo.
Callar no es más radical.
Callar es como raparse la cabeza:
el pelo vuelve a crecer.
Pero decir poquísimo, decir lo mínimo
que uno puede decir,
eso es lo que nos permite decir algo.
 

Mario Montalbetti 

  

Ninguém diz tudo. Ninguém diz nada.
O melhor é dizer pouquíssimo.
Calar não é mais radical.
Calar é como rapar a cabeça,
o cabelo volta a crescer.
Mas dizer pouquíssimo, dizer 
o mínimo que se pode dizer,
isso é que nos permite dizer algo.
 

(Trad. A.M.)

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20.6.25

Javier Olalde (Plano final)




PLANO FINAL 

 

Escribo de memoria aquel silencio
entre miradas que se rehúyen,
ese desastre categórico
de cuando todo está ya dicho
aun sin decirse
y esa manera de dividir el mundo
antiguo
en dos mitades divergentes. 

Escribo de memoria ese momento
divisorio
de volverse de espaldas y alejarse
clausurando el relato compartido. 

Además,
debería llover,
aunque fuese verano,
en el plano final de la secuencia.
 

Javier Olalde

  

Escrevo de memória aquele silêncio
entre olhares que se evitam,
esse desastre categórico
de quando tudo está dito
antes de dizer
e essa maneira de dividir o mundo
antigo
em duas metades divergentes.

Escrevo de memória esse instante
divisório
de voltar as costas e afastar-se
encerrando o conto partilhado.

Além disso,
deveria chover,
apesar de ser verão,
no plano final da sequência.


(Trad. A.M.)

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18.6.25

Auto-diálogo (CA-8)

 




AUTO-DIÁLOGO



Digo para mim mesmo:

- Ninguém te vai chorar, na morte…


E logo vem a resposta:

- Não me faz diferença nenhuma!



(A.M.)


16.6.25

Roberto Malatesta (A força do não fazer)




LA FUERZA DEL NO HACER

 

No hacer nada requiere fortaleza,
los débiles sucumben sin trabajo,
lo inventan si escasea, no pueden con el ocio.
Por el contrario el que no hace nada resiste
todas las tentaciones que atañen al trabajo.
Entonces es llevado al borde del barranco
tal como Cristo: arrójate, tómalo todo, adórame.
Y en su desierto del no hacer
persiste adusto y pobre,
cultiva la gran fuerza del que sabe
uál es su sitio y su destino entre los hombres.
No hacer nada requiere fortaleza,
su origen es el don y a su conocimiento
sólo acceden aquellos para el cual son llamados.
 

Roberto Malatesta

 

Não fazer nada requer fortaleza,
os fracos sucumbem sem trabalho,
inventam-no se escasseia, não suportam o ócio.
Pelo contrário, quem não faz nada resiste
a todas as tentações que respeitam ao trabalho.
Vai então, levado à beira do abismo,
tal como Cristo: atira-te, toma tudo, adora-me.
E no seu deserto de não fazer
mantém-se adusto e pobre,
cultiva a grande força de quem sabe
qual é o seu lugar e seu destino na terra.
Não fazer nada requer fortaleza,
a sua origem é uma bênção e só os escolhidos
lhe acedem ao conhecimento.

 
(Trad. A.M.) 

 

>>  Noticias (20p) / Marcelo Leites (17p) / La Pecera (5p)

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15.6.25

Óscar Alonso Pardo (Testamento)




TESTAMENTO

 

Si alguna vez el alzheimer
   se apodera de mis recuerdos
decidme que viajé a lugares remotos
en busca de tesoros escondidos
que me acosté con las mujeres más hermosas
que escribí los versos más bonitos
   que jamás se escribieron
que tuve muchos amigos
y una familia que me quiso.

Decidme todo eso
aunque sea mentira.

Si alguna vez
   no recuerdo mi nombre
decidme que fui
   un hombre feliz.

Óscar Alonso Pardo



Se o alzheimer algum dia
se apossar das minhas lembranças
dizei-me que viajei para remotos lugares
buscando tesouros ocultos
que me deitei com as mulheres mais belas
que escrevi os versos mais lindos
               que jamais foram escritos
que tive muitos amigos
e uma família que me amou.

Dizei-me isso tudo
mesmo que seja mentira.

Se algum dia
               eu não lembrar o meu nome
dizei-me que eu fui
               um homem feliz.


(Trad. A.M.)

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13.6.25

Owen Bullock (Melhor não fazer nada)




better
to do nothing
than to interfere . . .
a butterfly flutters
through the borage


Owen Bullock



melhor
não fazer nada
do que interferir…
uma borboleta esvoaça
pelo meio da borragem


(Trad. FJCC)


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