AZOREAN TORPOR
Subo à coroa do monte, sento-me na pedra mais alta,
suspendo o rosto sobre as mãos em concha
e deixo que se escoe o tempo entre os dedos das horas,
como lá em baixo se escoa, vagaroso,
o fumo de entre as telhas das casas.
Mole, como a paz do lugar, lentamente
passeio os olhos ao redor
e longe, pelo mar estagnado.
E nem o paquete que lá vai, ao largo, prestes
cortando o impreciso risco
de água, e céu do limite...
nem este aceno de outro e outro além,
nada, em mim, levanta a sonolência
que dos olhos me desce ao corpo sem vontade.
Tudo começa e acaba exactamente aqui,
na madorna da tarde sem memória.
Pedro da Silveira
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