Doiro, rio e região, é certamente a realidade mais séria que temos.
Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho; nenhuma outra nesga de terra nossa possui mortórios tão vastos, tão estéreis e tão malditos.
Basta sentir no corpo, uma só vez, a dentada daquelas fragas que devolvem ao céu, agressivamente, a luz recebida, ou molhar os pés na levada barrenta que o garrote dos espinhaços tenta estrangular, para se ver que não há desgraça maior dentro da pátria, nem semelhante via-sacra de meditação.
De ponta a ponta do ano nenhuma bênção possível mitiga a crucificação do sofrimento.
No verão, um calor de forja caldeia o xisto e transforma a corrente numa alucinação de lava a mover-se; no Inverno, até os olhos das videiras choram de frio.
- MIGUEL TORGA, Portugal (O Doiro).
Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho; nenhuma outra nesga de terra nossa possui mortórios tão vastos, tão estéreis e tão malditos.
Basta sentir no corpo, uma só vez, a dentada daquelas fragas que devolvem ao céu, agressivamente, a luz recebida, ou molhar os pés na levada barrenta que o garrote dos espinhaços tenta estrangular, para se ver que não há desgraça maior dentro da pátria, nem semelhante via-sacra de meditação.
De ponta a ponta do ano nenhuma bênção possível mitiga a crucificação do sofrimento.
No verão, um calor de forja caldeia o xisto e transforma a corrente numa alucinação de lava a mover-se; no Inverno, até os olhos das videiras choram de frio.
- MIGUEL TORGA, Portugal (O Doiro).