14.11.14

Ernesto Pérez Vallejo (Manual automasoquista)





MANUAL AUTOMASOQUISTA PARA NO ECHARTE DE MENOS



Átame a los pies de tu cama,
dame de comer solamente de tu mano,
enséñame algo que duela más que el olvido.
Ponte los tacones de los sábados cualquier día
y déjame oír como te marchas.
No vuelvas hasta mañana y que tu ausencia
sea también la falta de mí mismo.

Hazme promesas,
háblame de hipotecas,
de columpios,
de noches de pijama y de sofá,
de bailar hasta las tantas de los tontos,
de tus dietas absurdas ricas en fibra,
de aquel verano del noventa y tantos
en que tus padres te llevaron a Eurodisney
y que nunca más después de aquello
has vuelto a sentirte princesa.
Repróchame un castillo y una trenza
o que no mate dragones por tenerte.

Dime otra vez eso del reloj biológico,
tic tac tic tac tic tac
la maldita cuenta atrás,
que sienta el pánico de no llegar a tiempo
ni siquiera a tu vientre.

Abofetéame,
traza un camino de lunares
de tu cuello a la espalda,
un laberinto de pecas
desde tu boca a tu coño
y déjame perderme a mi manera.

Hazme ladrar,
con la falda levantada hasta las mismas nubes,
con las bragas bajadas hasta el mismo infierno,
mánchate los dedos con tus orgasmos
y házmelos lamer,
como si mi deseo por ti
ya no entendiera de anatomía.
Como si mi boca ya no tuviera lugar favorito para besarte
o tu no conocieras la palabra "límite".

Secuestra mis palabras
pide un rescate imposible,
mata a mis musas,
a todas,
métete dentro del espejo del baño,
que solo en ellos se aguantarme la mirada.
Exige posdatas de piel,
que mi garganta no sepa decir tu nombre
si no te amo.
Que mi lengua se enrede si confundo un te quiero
con cualquier te necesito.

Azótame,
hazme poeta de nuevo,
otra vez.
Y vete para siempre como nunca
duele más adentro,
más intensa,
ama más profunda, menos dócil
y deséame como nunca para siempre.

Arroja tu perfume a mi camisa,
amárrame tus labios a la boca,
tus manos a mi espalda,
tu sonrisa,
que vuele por el aire cual cometa
y se quede suspendida por mis ojos.

Retuerce mis pezones que el dolor
confunda su destino y ya no sepa
si doler cuando te vas
o a tu regreso.

No perdones nunca mis errores,
no me lleves nunca de la mano,
róbame el espacio,
los minutos,
clava tu tacones en mi pecho
y que a cada paso que te alejes
sea otra herida.

Y no me quieras nunca todavía
y no me odies siempre mientras tanto.


Ernesto Pérez Vallejo

[Los lunes que te debo]



Ata-me aos pés da cama,
dá-me comer por tua mão,
mostra-me algo que doa mais que o esquecimento.
Põe os saltos de sábado em qualquer dia
e deixa-me ouvir-te a ir embora.
Não voltes até amanhã e que a tua ausência
seja também a falta de mim mesmo.

Faz-me promessas,
fala-me de hipotecas,
de baloiços,
de noites de pijama e sofá,
de bailar até às tantas,
das tuas dietas ricas em fibra,
daquele Verão de noventa e tal
em que os teus pais te levaram à Eurodisney
e que nunca mais depois disso
voltaste a sentir-te princesa.
Reprocha-me um castelo e uma trança
ou não matar dragões por tua causa.

Diz-me aquilo outra vez do relógio biológico,
tic tac tic tac tic tac
a maldita contagem regressiva,
que sinta o pânico de não chegar a tempo
nem sequer ao pé de ti.
Esbofeteia-me,
faz-me um caminho de sinais
do teu pescoço até às costas,
um labirinto de sardas
da boca de cima à de baixo
e deixa-me perder-me a meu modo.

Faz-me ladrar,
de saia levantada até ao céu,
de calcinhas descidas até ao inferno,
molha os dedos no teu orgasmo
e dá-mos a lamber,
como se o meu desejo por ti
desconhecesse a anatomia.
Como se minha boca não tivesse
outro lugar para beijar
ou tu não conhecesses a palavra 'limite'.

Sequestra-me as palavras
pede um resgate impossível,
mata-me as musas,
todas,
mete-te no espelho do banheiro,
que só nele eu consigo suportar o meu olhar.
Exige pós-escritos na pele,
e que se não te amar
eu não consiga sequer dizer teu nome.
E que a língua se me enrede se eu confundir
um 'amo-te' com um qualquer 'preciso de ti'.

Açoita-me,
faz-me poeta de novo,
outra vez.
E vai-te para sempre como nunca,
dói-me mais dentro,
mais intensa,
ama mais fundo, menos dócil
e deseja-me como nunca para sempre.

Põe-me o teu perfume na camisa,
cola-me os lábios na boca,
as tuas mãos às minhas costas,
o teu sorriso,
que ele voe por aí feito cometa
e fique pendurado nos meus olhos.

Aperta-me os mamilos para que a dor se
confunda e fique sem saber
se há-de doer quando te vais
ou doer no teu regresso.

Não me perdoes nunca os erros,
nem me leves pela mão,
tira-me o espaço,
os minutos,
espeta-me os saltos no peito
e que seja uma chaga
por cada passo que te afastes.

E não me queiras nunca ainda,
nem me odeies sempre entretanto.

(Trad. A.M.)

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