9.6.10

Margaret Atwood (Os poetas resistem)






THE POETS HANG ON




The poets hang on.
It's hard to get rid of them,
though lord knows it's been tried.
We pass them on the road
standing there with their begging bowls,
an ancient custom.
Nothing in those now
but dried flies and bad pennies.
They stare straight ahead.
Are they dead, or what?
Yet they have the irritating look
of those who know more than we do.


More of what?
What is it they claim to know?
Spit it out, we hiss at them.
Say it plain!
If you try for a simple answer,
that's when they pretend to be crazy,
or else drunk, or else poor.
They put those costumes on
some time ago,
those black sweaters, those tatters;
now they can't get them off.
And they're having trouble with their teeth.
That's one of their burdens.
They could use some dental work.


They're having trouble with their wings, as well.
We're not getting much from them
in the flight department these days.
No more soaring, no radiance,
no skylarking.
What the hell are they paid for?
(Suppose they are paid.)
They can't get off the ground,
them and their muddy feathers.
If they fly, it's downwards,
into the damp grey earth.


Go away, we say —
and take your boring sadness.
You're not wanted here.
You've forgotten how to tell us
how sublime we are.
How love is the answer:
we always liked that one.
You've forgotten how to kiss up.
You're not wise any more.
You've lost your splendour.


But the poets hang on.
They're nothing if not tenacious.
They can't sing, they can't fly.
They only hop and croak
and bash themselves against the air
as if in cages,
and tell the odd tired joke.
When asked about it, they say
they speak what they must.
Cripes, they're pretentious.


They know something, though.
They do know something.
Something they're whispering,
something we can't quite hear.
Is it about sex?
Is it about dust?
Is it about fear?


Margaret Atwood



[Marcelo Leites]





Os poetas resistem.
Difícil livrarmo-nos deles,
embora Deus saiba que foi tentado.
Passamos por eles na rua,
parecem mendigos, de prato na mão,
um costume antigo deles.
Não têm nada no prato,
só moscas secas e tostões falsos.
Olham para nós pasmados.
Estão mortos ou quê?
Todavia, põem aquele ar irritante
de quem sabe mais do que nós.


Sabem mais de quê?
O que é que eles sabem lá na deles?
Ponde cá fora, vaiamo-los,
dizei lá claramente!
Se procuramos uma resposta simples,
então fazem-se de loucos,
ou bêbedos, ou pobretanas.
Puseram aquelas vestimentas
há uns tempos,
aquelas malhas e andrajos,
agora não conseguem tirá-los.
E têm problemas de dentes,
é um dos fardos deles,
faziam bem era ir ao dentista.


Também têm problemas com as asas
e não são de grande ajuda
no departamento de voos.
Nada de planarem, de brilharem,
de fazerem piruetas.
Para que diabo lhes pagam?
(Suponho que lhes pagam).
Nem conseguem descolar do chão,
eles e as suas penas enlameadas.
Se voam, é para baixo,
direitos ao solo húmido e cinzento.


Ide-vos lá embora, dizemos-lhes,
e levai a vossa tristeza chata.
Aqui ninguém vos quer.
Até porque vós não sabeis dizer-nos
quão sublimes nós somos.
E como a solução é o amor
- sempre gostámos dessa.
Não sabeis bajular,
não tendes juizinho,
perdestes a graça.


Mas os poetas resistem,
lá tenazes são eles.
Não sabem cantar, não sabem voar,
apenas pincham e coaxam
e atiram-se contra o vento
como se estivessem na jaula,
e dizem só piadas gastas.
Quando inquiridos, respondem
que dizem apenas aquilo que devem.
Deus, que pretenciosos!


Eles algo sabem, no entanto,
alguma coisa eles sabem,
algo que murmuram,
algo que não se consegue ouvir bem.
É sobre sexo?
Sobre o pó?
Sobre o medo?


(Trad. A.M.)



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