9.7.14
Fialho de Almeida (No Tejo-1)
Enquanto o vapor não chega detenho-me a abranger amorosamente, dos terraços da estação do Barreiro, a marinha plácida que a meus olhos se desenrola, um quase nada perdida nas musselinas ondeantes da manhã.
O Sol não rompe, há vento, e como choveu de noite, um vago véu de lágrimas suspende-se no espaço, e irrita-me a respiração de frígidas picadas.
Daquela altura da riba, a expansão que faz o Tejo, dá-me uma sensação de taça cheia, tão fechado o circuito das suas margens. . .
No primeiro plano, à direita, uma língua de areia contém moinhos e casarelhos brancos, muros de quinta, oliveiras e eucaliptos tristes que se acurvam a saudar a lufada húmida da aurora, vinda da barra.
Pela esquerda é uma barreira brusca de terra vermelha, alteada, chanfrada, comida dos assaltos das cheias, rachada da água, com cabelugens de mato e pinheiros anões dum verde-bronze.
As casas parecem sucessivamente mais humildes, à medida que se distanciam pelos planos além da perspectiva - são quadradinhos de caliça, com pontos negros de portas e janelas, telhados negros, paliçadas de quintais e de arribanas; depois além, fazendo fundo, no ponto onde o cotovelo do rio põe em relevo os montes de Cacilhas, a casaria complica-se em povoaçõess miúdas, com chanfraduras de caminhos, mirantes, quintas, dedos de campanários e chaminés de fábricas. (...)
(30-Março-1891)
Os Gatos
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