7.9.25

Antonio Gómez (Não me vão)




No me gustan
los adjetivos calificativos,
los caminos indefinidos,
las banderas arriadas,
las campanas del sistema,
el color rojo sangre,
los golpes programados,
la rutina, las cenizas.    

No me gusta 
la retórica que amplifica 
el eco del silencio, 
la que multiplica vuelos 
símbolos y nortes.

No me gustan los milagros.


Antonio Gómez



Não me vão
os adjectivos qualificativos,
os caminhos indefinidos,
as bandeiras arriadas,
as campainhas do sistema,
a cor do vermelho sangue,
os golpes programados,
a rotina, as cinzas.

Não me vai
a retórica que amplifica
o eco do silêncio,
a que multiplica voos
símbolos e nortes.

Não me vão os milagres.


(Trad. A.M.)

.

6.9.25

Juan Luis Panero (Cães na noite de Agosto)

 



LOS PERROS EN LA NOCHE DE AGOSTO



Ladran los perros en la noche de agosto
y los árboles están quietos, ni una hoja se mueve.
Ladran los perros y un perdido pasado también ladra
o maldice o reclama la visión del amanecer.
Es el verano, agosto ardiente, el hielo derritiéndose en el vaso,
polvo y moscas, frenazos, sirenas de ambulancias.
Los perros ladran, tal vez pregunten
el porqué de esta noche, de esta historia,
ignoran que el tiempo repite
sus inútiles lamentos, que el silencio
adivina otro silencio, otra sombra, la sombra.


Juan Luis Panero  

[La ceniza]

 

Ladram os cães na noite de Agosto
e as árvores quietas, não se mexe sequer uma folha.
Ladram os cães e ladra também um perdido passado
ou maldiz ou reclama a visão do amanhecer.
É verão, Agosto ardente, o gelo derrete no copo,
moscas e poeira, travões, sirenes de ambulâncias.
Os cães ladram, talvez perguntem
o porquê desta noite, desta história,
ignorando que o tempo repete 
seus inúteis lamentos, que o silêncio 
adivinha outro silêncio, outra sombra, a sombra.

(Trad. A.M.)

 .

4.9.25

Nuno Dempster (Tílias antes do solstício)

 



TÍLIAS ANTES DO SOLSTÍCIO 

 

Na cidade sabemos as estações
pelo lado vulgar,
o do sol que se inclina como os corpos.
O mais tem-se mostrado impróprio
para poemas.
Ninguém vai escrever
sobre as tílias urbanas que enchem
com o aroma de Junho
as noites desta praça.
Se a poesia se cala acerca
dos sinais de verão,
porque haviam as tílias de existir?
 

Nuno Dempster

 .

2.9.25

Roberto Fernández Retamar (Agradecendo o presente)

 



AGRADECIENDO EL REGALO DE UNA PLUMA DE FAISÁN



Con esta hermosa pluma tornasolada puedo
escribir las palabras en que García Lorca
dijo
Herido de amor huido.
Dijo que en tus ojos
había un constante desfile de pájaros,
Un temblor divino como de agua clara
sorprendida siempre sobre el arrayán.

Escribir las palabras en que Góngora dijo
A batallas de amor campos de pluma.

Escribir las palabras en que Antonio Machado
dijo
Hoy es siempre todavía.


Roberto Fernández Retamar

 

 

Com esta bela pena posso
escrever as palavras em que García Lorca
disse
Ferido de amor fugido.
Disse que em teus olhos
havia um constante desfile de pássaros,
um tremor divino como de água clara
surpreendida sempre sobre a murta.

Escrever as palavras em que Gôngora disse
A batalhas de amor campos de pluma.

Escrever as palavras em que Antonio Machado
disse
Hoje é sempre ainda.


(Trad. A.M.)

.

1.9.25

Raúl Zurita (Queridas todas coisas)

 





QUERIDAS TODAS COISAS

 

Do amor do Chile, do amor das coisas
todas, que de Norte a Sul, de Leste a
Oeste se abrem e falam
As torrentes e as neves que se tocam
e falam amando-se porque neste mundo
todas as coisas falam de amor;
as pedras com as pedras e os pastos
com os pastos
Porque assim se amam as coisas; as praias,
os desertos, as cordilheiras, os 
bosques mais ao Sul, os glaciares e
todas as águas que se abrem tocando-se
Para que tu as vejas se abrem
Só para que tu o escutes Chile se 
levanta
Só para que tu e eu nos olhemos
por todo horizonte, sim olha:

levantam-se

Raúl Zurita

(Trad. A.M.)

 

[El amor de Chile]

.


30.8.25

Jorge de Sena (No comboio de Edimburgo a Londres)




NO COMBOIO DE EDIMBURGO A LONDRES 

 

Que coisas se fariam — tão de seios
redonda e esbelta aqui sentada e loira
e lendo um livro idiota à minha frente!
As pernas que se juntam quanto abri-las
a duras mãos com dedos titilantes
para depois se unirem apertando
em húmidas paredes o que se entesa vendo-a…
E ah como a boca se arredonda rósea!
E os dedos que são esguios, serão sábios?
Tão sábios como os meus e minha boca?
Que loura juventude nem me vê — quem pode
envelhecer sem raiva aos olhos dela,
se de alma e de entre pernas se é tão jovem sempre?
 

Jorge de Sena

 .

28.8.25

Piedad Bonnett (Aqui dava o pai)




(IV)                                                                                                                                                  

 

Aquí golpeaba airadamente el padre sobre la mesa
causando un temblor de cristales, una zozobra en la sopa,
volcaba el jarro de su autoridad aprendida, de sus miedos,
de su ternura incapaz de balbuceos.
Adelantaba su dedo acusador y el silencio
era como una puerta obstinada que defendía a los niños del llanto.
Aquí solo hay ahora una mesa de cedro, unos taburetes,
un modesto frutero que alguien hizo
con doméstico afán.
¿Dónde los niños,
dónde el padre y la madre arrulladora?
La tarde esplendorosa asoma añil y roja detrás de los vitrales.
Y pareciera que tanta paz, tanto silencio pesaroso,
fuera el golpe de Dios sobre la mesa.
 

Piedad Bonnett

  

Aqui dava o pai um murro na mesa, de ira,
fazendo tremer os vidros e saltar a sopa,
virava o jarro da sua autoridade e dos seus medos,
da sua ternura incapaz de meias tintas.
Apontava um dedo acusador e o silêncio
era como uma porta obstinada
defendendo do pranto as crianças.
Aqui agora há apenas uma mesa de cedro,
alguns bancos, uma fruteira feita por alguém
com doméstico afã.
Onde é que estão as crianças,
onde está o pai e a mãe protectora?
A tarde esplendorosa aparece nas vidraças
em anil e vermelho.
Dir-se-ia que esta paz toda, este pesaroso silêncio,
são como que o murro de Deus sobre a mesa.
 

(Trad. A.M.)

 .

27.8.25

Julia Bellido (O poema)




EL POEMA

 

Es un precipitarse
a un abismo de sed que nunca cesa
y al que vamos ardiendo. 

Es como un arañazo
o una puñalada.
El aguijón, de pronto, de una abeja. 

Un chupito de vodka
en una madrugada de verano
donde ya no esperabas
encontrarte con nadie. 

Y es a la vez tan breve,
y resulta tan simple
como un cuenco de agua que se vuelca.

Julia Bellido

[Autorretrato]



É uma queda
num abismo de sede que nunca acaba
e onde vamos ardendo.

É como um arranhão
ou punhalada,
o aguilhão, de repente, de uma abelha.

Um gole de vodka
numa madrugada de verão
onde não esperavas já
encontrar ninguém.

E é a um tempo tão breve,
e vai-se a ver tão simples
como uma concha de água que se vira.


(Trad. A.M.)

.

25.8.25

Valerio Magrelli (Eu sou aquilo que falta)





IO SONO CIÒ CHE MANCA

 

Io sono ciò che manca
dal mondo in cui vivo,
colui che tra tutti
non incontrerò mai.
Ruotando su me stesso ora coincido
con ciò che mi è sottratto.
Io sono la mia eclissi
la contumacia e la malinconia
l’oggetto geométrico
di cui per sempre dovrò fare a meno.


Valerio Magrelli 

 

Eu sou aquilo que falta
no mundo em que vivo,
aquele que jamais encontrarei
de todos.
Rodando sobre mim mesmo,
coincido agora com aquilo que me roubaram.
Eu sou o meu eclipse,
a contumácia, a melancolia,
o objecto geométrico de que sempre
terei de prescindir.


(Trad. A.M.)

.

23.8.25

Pedro López Lara (O mau administrador)




EL MAL ADMINISTRADOR  

 

Todo poema escapa del silencio, 
disipa en su transcurso su pureza inicial, 
su prodigiosa herencia,  
malvende nuestras almas 
por un puñado de palabras  
y finalmente vuelve, con estigma en los ojos,  
al feudo traicionado.  

Todo poema dilapida el secreto 
que le fue confiado.
 

Pedro López Lara 

 

Todo poema escapa do silêncio,
dissipando no trajecto sua pureza inicial,
seu legado fabuloso,
vende ao desbarato nossas almas
por um punhado de palavras
e volta finalmente, com estigma na vista,
ao feudo atraiçoado. 

Todo poema delapida o segredo
que lhe foi confiado.
 

(Trad. A.M.)

 .

22.8.25

Pablo Neruda (Como se mede a espuma)




Como se mede a espuma da cerveja
que transborda do copo?

Que faz uma mosca aprisionada
num soneto de Petrarca?

Que continua o Outono a pagar
com tanto dinheiro amarelo?

Como é que as laranjas na árvore
distribuem o sol entre si?

As lágrimas por chorar
ficam à espera em pequenos lagos?

Por que foi Cristóvão Colombo
incapaz de descobrir a Espanha?

 

PABLO NERUDA
Libro de las Preguntas
- Obra póstuma


(por fjc2)

.

20.8.25

Rui Caeiro (Também os gritos)




Também os gritos são feitos
de palavras, isto é

de uma grande ausência
de palavras, isto é

de silêncio carregado
de veneno

Rui Caeiro

 .

18.8.25

Pablo Albornoz (Águas errantes)

 



aguas errantes
el miedo me persigue
derramándose


Pablo Albornoz



águas errantes
o medo me persegue
e se derrama


(Trad. A.M.)

.


17.8.25

Osvaldo Picardo (O velho Cavafis olha para ti)

 



EL VIEJO CAVAFIS TE MIRA DESDE EL MOSTRADOR
DE UN BAR 

 

No, no sepas que te amo
ni la noche esconda a este viejo
más que a un gato. Es algo de mi aspecto humano,
que asusta o da pena,
pero estás viendo una máscara arrugada
detrás de la que un dios no se cansa de mirarte.
Y él quiere saber
el mundo de quién le está prohibido.
En el incendio de tu cuerpo,
mira la belleza del humo que hace creíble al viento.
Poco y nada entre las cenizas deja el tiempo,
no dejes que los idiotas apaguen la llama.
Estoy acá, donde podés alcanzarme
donde el recuerdo no ha nacido,
ni envejecen los ojos.

OSVALDO PICARDO
Nadar en el tiempo
(2023)
 

 

Não, não saibas que te amo
nem esconda a noite este velho
mais que um gato. O que assusta ou dá pena
é algo de meu ar humano,
mas aquilo que vês é uma máscara engelhada
por trás da qual um deus não se cansa de te olhar.
E ele quer saber
o mundo de quem lhe está interdito.
No incêndio de teu corpo,
olha a beleza do fumo que faz o vento credível.
Pouco ou nada deixa o tempo entre as cinzas,
não permitas que os idiotas apaguem a chama.
Eu estou aqui, onde me podes alcançar,
onde não nasceu a lembrança,
nem envelhecem os olhos.


(Trad. A.M.)

.

15.8.25

13.8.25

Óscar Hahn (Osso)




HUESO

  

Curiosa es la persistencia del hueso
su obstinación en luchar contra el polvo
su resistencia a convertirse en ceniza 

La carne es pusilánime
Recurre al bisturí a ungüentos y a otras máscaras
que tan sólo maquillan el rostro de la muerte 

Tarde o temprano será polvo la carne
castillo de cenizas barridas por el viento 

Un día la picota que excava la tierra
choca con algo duro: no es roca ni diamante 

es una tibia un fémur unas cuantas costillas
una mandíbula que alguna vez habló
y ahora vuelve a hablar 

Todos los huesos hablan penan acusan
alzan torres contra el olvido
trincheras de blancura que brillan en la noche 

El hueso es un héroe de la resistencia
 

Óscar Hahn

 

Curiosa a persistência do osso
a obstinação em lutar contra o pó
a resistência a desfazer-se em cinza

A carne é pusilânime
recorre ao bisturi a unguentos e máscaras
que apenas maquilham o rosto da morte

Tarde ou cedo a carne será pó
castelo de cinzas varridas pelo vento

Um dia o ferro que escava a terra
toca em algo duro, não rocha nem diamante

é uma tíbia um fémur umas quantas costelas
uma mandíbula que um dia falou
e agora volta a falar

Todos os ossos falam penam acusam
erguem torres contra o esquecimento
trincheiras de brancura brilhando na noite

O osso é um herói da resistência


(Trad. A.M.)

.

12.8.25

Julia Bellido (Sobre a palavra)






SOBRE LA PALABRA                               

 

La palabra es un fuego
que quema la garganta
cuando muere en los lábios
o deja de escribirse. 

Cuando nadie la escucha también quema. 

Es un hierro candente en las entrañas,
que lo calcina todo. 

Pero es lo único que tengo. 

No hay dioses y no hay ídolos
más brillantes que ella 

cuando puedo verterla como lava
sobre un papel en blanco.


Julia Bellido



A palavra é lume
que queima a garganta
quando morre nos lábios 
ou fica por escrever.

Quando ninguém a escuta também queima.

É um ferro em brasa nas entranhas,
que queima tudo.

Mas é só o que eu tenho.

Não há deuses, nem ídolos
mais brilhantes que ela

quando consigo vertê-la como lava
sobre a página em branco.


(Trad. A.M.)

 


>>  Vallejo (8p) / Rotula (3p) / Culturamas (rec.) / Puentes de papel (rec.)

.

10.8.25

Francisco J. Craveiro Carvalho (14 Dez 2021)




14 DEZ 2021

 

Solteiro a vida inteira.
Sétimo dia. Em bom sítio 
o andar vende-se sempre.
O pior são os livros científicos.
Quem é que quer aquilo?
 

FRANCISCO J. CRAVEIRO CARVALHO
Cinco
(2023)


.

8.8.25

Javier Velaza (Sequelas)




SECUELAS

 

El tiempo de tu infancia era redondo.
Como la esfera del reloj de comunión.
Como la hostia que te administrara
un fraile orondo, como su tonsura.
Como el balón de cuero que no te regalaron.
Como los círculos absortos de los viejos
removiendo el café al final de la fiesta.

De aquel tiempo te quedan secuelas indelebles:
esa manía tuya de darle cuerda al mundo,
la obsesión por seguir agnóstico y esbelto,
el recelo hacia quien tuvo cuanto quiso,
y esta única forma posible de esperanza:
remover el café en sentido contrario.


Javier Velaza

 

Era redondo o tempo da tua infância.
Como a esfera do relógio da comunhão.
Como a hóstia que te ministrava
um frade barrigudo, como a sua tonsura.
Como a bola de couro que te ofereceram.
Como os círculos absortos dos velhos
mexendo o café no fim da festa.

Desse tempo restam-te marcas indeléveis,
essa mania de dares corda ao mundo,
a obsessão de te manteres agnóstico e esbelto,
o receio a quem teve tudo quanto quis,
e esta só forma possível de esperança,
mexer o café em sentido contrário.


(Trad. A.M.)

.

7.8.25

Javier Gilabert (Como a amendoeira em flor)




Como el almendro en flor
me sigues deslumbrando.

Hay días que iluminas
todo a tu alrededor
con tu mera presencia.

Y sigue sucediendo
tanto tiempo después:
la misma luz. Tan tuya.

Los almendros en flor.
Tu presencia en la casa.
 

Javier Gilabert



Como a amendoeira em flor
continuas a deslumbrar-me.

Dias em que iluminas
tudo em teu redor
só com a tua presença.

E continua a acontecer
tanto tempo depois:
a mesma luz, tão tua.

A amendoeira em flor.
E tu em casa.


(Trad. A.M.)

.

5.8.25

Paulo Henriques Britto (Horácio no baixo)




HORÁCIO NO BAIXO

 

Tentar prever o que o futuro te reserva
não leva a nada. Mãe de santo, mapa astral
e livro de autoajuda é tudo a mesma merda.
O melhor é aceitar o que de bom ou mau
aconteceu. O verão agora inicia
pode ser só mais um, ou pode ser o último...
vá saber. Toma o teu chope, aproveita o dia,
e quanto ao amanhã, o que vier é lucro.


Paulo Henriques Britto

 .

3.8.25

Miguel Veyrat (Amor arde só em terra)




AMOR ARDE SOLO EN TIERRA 

 

Él sabe que no hay vida más allá de la muerte.
Que su tigre amante nunca reposará
en la casa del Hades hasta que el humo
no salga de su pira. Que amor arde
sólo en tierra. Dame la mano escucha
te lo pido por piedad pues ya no
regresaré cuando el fuego me posea.
Aquiles le tiende los brazos.
Patroclo como la niebla ya se ha desvanecido.
La carne de su carne es un abrazo
que arde en la noche rasgada contra un filo
de rocas. Parece el cielo entonces
un vaso con la inocente carne diluida
en aquella luz donde dos seres
se amaron un instante —solos y tejidos
por sus frágiles auras de memoria y olvido.
La ausencia pues nunca termina. Siempre
es sin por qué. Como aquél delicado laberinto.
 

Miguel Veyrat 

 

Ele sabe que não há vida para além da morte.
Que seu tigre amante nunca repousará
na casa do Hades até o fumo 
sair da sua pira. Que amor arde 
só em terra. Dá-me a tua mão escuta
peço-te por piedade pois eu já não 
voltarei quando o fogo me possuir.
Aquiles estende-lhe os braços.
Patroclo como a névoa já todo se desvaneceu.
A carne de sua carne é um abraço 
que arde na noite rasgada contra
um fio de rochas. Parece então o céu 
uma taça com a inocente carne diluída 
nessa luz onde dois seres
se amaram por um instante - sozinhos, tecidos
por suas frágeis auras de memória e olvido.
A ausência pois nunca termina, sempre sendo
sem porquê. Como aquele delicado labirinto.
 

(Trad. A.M.)

 .

2.8.25

Eduardo Moga (Poesia para)




POESÍA PARA...
            (Letanía a modo de poética)

 

Poesía para desnudar la palabra.
Poesía para que se encienda la piel.
Poesía para conjurar el miedo.
Poesía para interpretar el caos.
Poesía para razonar los sueños.
Poesía para hacer exacta la alucinación.
Poesía para ver lo invisible.
Poesía inútil.
Poesía para la belleza.
Poesía contra la estupidez.
Poesía frente a la intemperie.
Poesía para llegar al día siguiente.
Poesía para tener tema de conversación.
Poesía para respirar.
Poesía para sustituir al grito.
Poesía para follarnos al lector.
Poesía para que el poema nos folle.
Poesía porque es lo único que sé hacer.
Poesía para que la oscuridad sea luz y la luz, oscuridad.
Poesía para vivir más.
Poesía para decir "te quiero".
Poesía para eyacular.
Poesía sin poéticas.
Poesía para la revolución.
Poesía para la nada.
Poesía para todas las palabras.
Poesía en silencio.
Poesía para que no nos engañen.
Poesía porque no se vende.
Poesía para el poema.
Poesía para ser libre.
Poesía para los amigos (y los enemigos).
Poesía de lo inverosímil y de lo cotidiano.
Poesía para crear otra realidad.
Poesía porque de algo hay que morir.
Poesía para no pensar en la muerte.
Poesía porque es divertido.
Poesía para llevar la contraria.
Poesía para tener razón.
Poesía porque no me da la gana escribir prosa.
Poesía porque no sé escribir prosa.
Poesía para rezar.
Poesía para que nos quieran más.
Poesía para preservar el espíritu.
Poesía por facilidad de palabra.
Poesía porque suena bien.
Poesía para que la palabra diga lo que dice.
Poesía para que la palabra diga lo que no dice.
Poesía para comprenderme.
Poesía para convivir con la contradicción.
Poesía para vencer al pudor.
Poesía para olvidar el tiempo.
Poesía para sentirnos diferentes.
Poesía para que nos pregunten: "¿Qué ha querido Ud. decir con...?"
Poesía porque no rima.
Poesía para recordar.
Poesía por imitación.
Poesía para tener algo que hacer los fines de semana.
Poesía como prótesis.
Poesía como consuelo.
Poesía para entretener la espera.
Poesía para seguir escribiendo "poesía para..."
Poesía por vanidad.
Poesía poro.
Poesía para que se nos ocurran versos al acostarnos
                   (y no los recordemos al despertarnos).
Poesía para que nos deseen las mujeres (o los hombres).
Poesía para que nuestro padre nos apruebe.
Poesía para que nuestro padre nos repruebe.
Poesía para cagarnos en alguien.
Poesía, siempre, para la emoción.
Poesía porque poesía.


Eduardo Moga

 

 

Poesia para desnudar a palavra.
Poesia para incendiar a pele.
Poesia para conjurar o medo.
Poesia para interpretar o caos.
Poesia para explicar os sonhos.
Poesia para tornar exacta a alucinação.
Poesia para ver o invisível.
Poesia inútil.
Poesia para a beleza.
Poesia contra a estupidez.
Poesia frente à intempérie.
Poesia para chegar ao dia seguinte.
Poesia para ter tema de conversa.
Poesia para respirar.
Poesia para substituir o grito.
Poesia para foder o leitor.
Poesia para o poema nos foder.
Poesia porque não sei fazer outra coisa.
Poesia para que a escuridão seja luz e a luz escuridão.
Poesia para viver mais.
Poesia para dizer ‘amo-te’.
Poesia para ejacular.
Poesia sem poéticas.
Poesia para a revolução.
Poesia para o nada.
Poesia para todas as palavras.
Poesia em silêncio.
Poesia para não nos enganarem.
Poesia porque não se vende.
Poesia para o poema.
Poesia para ser livre.
Poesia para os amigos (e inimigos).
Poesia do inverosímil e do quotidiano.
Poesia para criar outra realidade.
Poesia porque de algo se tem de morrer.
Poesia para não pensar na morte.
Poesia porque é divertido.
Poesia para fazer o contrário.
Poesia para ter razão.
Poesia porque não me dá na gana a prosa.
Poesia porque prosa não sei escrever.
Poesia para rezar.
Poesia para que nos queiram mais.
Poesia para preservar o espírito.
Poesia por facilidade de palavra.
Poesia porque parece bem.
Poesia para a palavra dizer o que diz.
Poesia para a palavra dizer o que não diz.
Poesia para me compreender.
Poesia para conviver com a contradição.
Poesia para vencer o pudor.
Poesia para olvidar o tempo.
Poesia para nos sentirmos diferentes.
Poesia para nos perguntarem: ‘Que quis você dizer com…?’
Poesia porque não rima.
Poesia para recordar.
Poesia por imitação.
Poesia para ter algo que fazer no fim de semana.
Poesia como prótese.
Poesia como consolo.
Poesia para entreter a espera.
Poesia para continuar a escrever «poesia para…’
Poesia por vaidade.
Poesia poro.
Poesia para nos virem versos ao deitar
               (e não os recordar ao acordar).
Poesia para as mulheres nos desejarem (ou os homens).
Poesia para ter a aprovação do pai.
Poesia para ter do pai reprovação.
Poesia para cagar em alguém.
Poesia, sempre, para a emoção.
Poesia porque poesia.


(Trad. A.M.)

 .

31.7.25

Paul Bailey (Nocturno)


 

NOCTURNAL
 


I knew a man once who wished he hadn’t been born.
He meant what he said.
He wasn’t a poseur.
In the few, radiant years I knew him
He never spoke for effect.
 

He said what he meant, I remember,
quietly, thoughtfully,
over tea and scrambled eggs on toast
on one of those perfect mornings
that always follows
a night of rapture.
 

He had the bright way of speaking
of those in the deepest despair.
He made himself a joy to be with.
He saw the funny side of almost everything.
 

I knew he had meant what he said
when he departed decorously
with sleeping pills and vodka.
No noose, no razor blades, no blood in the bath,
And nothing so wickedly inconsiderate
as a sudden plunge under an oncoming train –
he valued understatement.
 

I shan’t reveal his name.
He wouldn’t have wanted me to.
He really did prefer oblivion.
It was his chosen habitat.
 

Paul Bailey 

 

Conheci em tempos um homem cujo desejo era não ter nascido.
Era sincero.
Não se tratava de pose.
Nos poucos anos felizes em que o conheci
nunca o vi falar para impressionar alguém. 

Lembro-me de que dizia o que pensava, 
discreta e ponderadamente,
enquanto bebia chá e comia ovos mexidos com torradas
numa daquelas manhãs perfeitas
que se seguem sempre 
a uma noite de excitação.  

Falava inteligentemente 
como os que estão mergulhados no maior desespero.
Era um prazer estar com ele.
Via o lado divertido de quase tudo. 

Eu sabia que falara a sério
quando recatadamente abalou
levando comprimidos para dormir e vodka.
Nada de cordas, lâminas, sangue na banheira 
ou algo tão perversamente insensível 
como atirar-se repentinamente para debaixo de um comboio –
dava valor à moderação.

Não revelarei o nome.
Não gostaria que o fizesse.

Preferia realmente o esquecimento.
Fora o ambiente que escolhera para si.
 

(Trad. fjcc)

 .

29.7.25

Javier Velaza (O quarto escuro)




LA HABITACIÓN OSCURA

 

Junto a tu habitación, la habitación oscura.
Vives en el umbral de su puerta invisible,
ordenando rutinas, clasificando horas
hasta el momento exacto. Eres el elegido
y has aprendido el arte de paladear la espera.
De pronto, algo te invoca por tu nombre. Y pasas.
La luz negra es silencio que ilumina el sonido
del prodigio. Lo palpas un instante. Y se va.
Y eso es todo. Después, sales de nuevo y vuelves
a esta vieja tarea de destruir el mundo.

Javier Velaza

  

Ao lado do teu quarto, o quarto escuro,
Vives na soleira da sua porta invisível,
ordenando rotinas, classificando horas
até ao momento exacto. És o escolhido
e aprendeste a arte de provar a espera.
De repente, algo te chama pelo nome. E passas.
A luz negra é silêncio iluminando o som
do prodígio. Palpa-lo um instante e ele vai-se.
E é tudo. Depois, sais de novo e voltas
a esta tarefa antiga de destruir o mundo.


(Trad. A.M.)



>>  Zenda (5p) / Ajko ki (5p) / Blue Gum  (4p) / Esquire (entrevista) / Wikipedia

.

27.7.25

Javier Gilabert (Gramática do assombro)




GRAMÁTICA DEL ASOMBRO

 

 

I

El poema es el centro del lenguaje
y en su giro hay esquirlas de palabras
que se arrojan al tiempo por la fuerza
generada en “la voz” de la que brota. 

II

“El instante” es el centro del poema.
Se amplifica en sus versos y se expande
revelando ante el hombre su secreto,
como briznas de lluvia en el cristal.

            III

El asombro es la carne del instante,
y arraigan sus cimientos en “la luz”,
material con que el verso se construye,
el aire el armazón que lo sostiene.

            IV

Del asombro al asombro va “el poema”.
 

Javier Gilabert 

 

I

O poema é o centro da linguagem
e em seu giro há esquírolas de palavras
que se atiram ao tempo pela força
gerada na ‘voz’ de que brota. 

II

‘O instante’ é o centro do poema,
amplifica-se nos versos e expande-se
revelando ao homem seu segredo,
como brisas de chuva nos vidros. 

               III

O assombro é a carne do instante,
e seus cimentos radicam na ‘luz’,
material de que o verso se compõe,
o ar a armação que o sustenta. 

               IV

Do assombro ao assombro vai ‘o poema’.


(Trad. A.M.)



>>  Javier Gilabert (sit. pessoal) / Hector Castilla (10p) / Circulo de poesia (5p) / Zenda (5p) / Wikipedia

.

25.7.25

Antonio Gómez (Disfarçar a realidade)




Disfrazar la realidade
hasta creerla.

Aceptar sus trampas,
sus silencios, 
sus lágrimas.
Ignorar cerrojos.
Asumir espejos 
y espejismos.

Misión de todos es
perpetuar
esta parodia.

Antonio Gómez

 

Disfarçar a realidade
até crer nela.

Aceitar suas ciladas,
seus silêncios,
suas lágrimas.
Ignorar ferrolhos.
Assumir miragens
e fantasias.

Missão de todos é
perpetuar
esta paródia.


(Trad. A.M.)

.