Junto desta
cama de hospital,
utilitária e
branca, em que agora
descansa o
corpo doente do meu pai,
neste mesmo
sítio onde agora
eu mesmo
estou sentado,
esteve um
dia ele
velando o seu.
Recorda-mo
às vezes, lá pela noite,
quando
apagam as luzes do corredor
e se ouvem
os passos silenciosos
do pessoal
de vigia
e a tosse do
vizinho e o gemido longínquo
de alguém
que sofre alheio
no quarto do
fundo.
Em voz
baixa, conta outras noites de insónia
semelhantes a
esta,
ainda que
ele não fosse então
o sujeito
passivo dos meus inábeis cuidados
e somente o
representante dessa força
que sem
dúvida tiramos da fraqueza
para poder
estar à altura
de tão
penoso acontecimento.
Entre duas
luzes,
com a
respiração forçada do oxigénio,
enquanto
altera as doses no conta-gotas,
penso em mim
por momentos
e, sem
querer,
vejo-me a
mim mesmo
estendido
nesta cama,
e, ao meu
lado, sentado, como eu,
na mesma
cadeira,
um dos meus
filhos segurando
com muita
força a minha mão.
Álvaro Valverde
.