A bofetada como que lhe rebenta a cabeça e sente os olhos
desencaixar-se, a quentura do sangue a escorrer do nariz, mas queda-se numa
aceitação animal, sem vontade própria, incapaz de raciocínio ou sentimento.
E como em estado segundo, assiste, participa, esquecida de
ser, ignorante do que faz, do que vê, a modos de sentir seu o corpo e ao mesmo
tempo o negar, sofrer-lhe a dor e sair dele.
Num reflexo tinha fechado as pernas, mas logo as voltara a
abrir, obediente quando ele, forçando, lhas pegou às mãos ambas como se a
quisesse rachar.
Esperava bruteza e foi o que sofreu: o ventre esgarçado, uma
sensação de queimadura, o peso, a asfixia da mão que lhe tapava a boca, a outra
a apertar-lhe o pescoço.
Coito selvagem, dor que nunca tinha sentido, nem suportado
macho com raiva assim.
J. RENTES DE CARVALHO
O Meças
(2016)
O Meças
(2016)
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