31.8.06
Sophia (São gostos)
SÃO GOSTOS
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
livre como o vento e repetido
como o florir das ondas ordenadas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
BIOGRAFIA
Sophia de Mello Breyner Andresen foi, sem sombra de dúvida, um dos mais emblemáticos poetas portugueses contemporâneos, pela originalidade sem precedentes da sua expressão formal – um nome que se transformou, em Portugal, num sinónimo de poesia pura e, ao mesmo tempo, numa espécie de musa da própria poesia.
Sophia nasceu no Porto, em 1919, no seio de uma família aristocrática de ascendência dinamarquesa.
A sua infância e adolescência decorrem entre o Porto e Lisboa, onde cursou Filologia Clássica. Após o casamento com o advogado e jornalista Francisco Sousa Tavares, fixa-se em Lisboa, passando a dividir a sua actividade entre a poesia e o activismo cívico contra o regime de Salazar. A sua poesia ergue-se então como uma espécie de "voz de liberdade".
Profundamente mediterrânica na sua tonalidade, a linguagem poética de Sophia de Mello Breyner denota, para além da sólida cultura clássica da autora e da sua paixão pela cultura grega, a pureza e a transparência do signo na relação da linguagem com as coisas, a luminosidade de um mundo onde intelecto e ritmo se harmonizam na forma melódica, perfeita, do poema.
A sua expressão profundamente única e pessoal falam de um desejo de comunhão com a essência do real, de uma tentativa humilde e solene de ser veículo para a revelação da secreta beleza das coisas.
O universo poético de Sophia de Mello Breyner está assente sobre o sonho jamais perdido de um mundo em justo equilíbrio como seria o mundo dos deuses gregos na antiguidade clássica, um mundo inundado pela luz e pelo mar, em que tudo se conjuga numa ambiência extremamente íntima e quase mágica.
Luz, verticalidade e magia estão, aliás, sempre presentes na obra de Sophia: quer na obra poética quer na importante obra para crianças que, inicialmente destinada aos seus cinco filhos, rapidamente se transformou num clássico da literatura infantil em Portugal, marcando sucessivas gerações de jovens leitores com títulos como O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana ou A Menina do Mar.
Sophia foi ainda tradutora para português de obras de Claudel, Dante, Shakespeare e Eurípedes, tendo sido condecorada pelo governo italiano pela sua tradução de O Purgatório.
Acima de tudo, Sophia é ainda a minha própria musa, aquela cuja obra me guia e me sustenta através de todos os meus percursos interiores, como uma espécie de fio de Ariadne através do labirinto do Minotauro.
Sophia de Mello Breyner Andresen morreu a 2-Julho-2004.
Fonte (Bio): Lugar das palavras
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