1.6.23

Chantal Maillard (Desejei, em tempos)




Deseé alguna vez que un poeta me amase.

Ahora duelen sus poemas en mi cuerpo‚
algo de mí que en él se reconoce hasta quebrar la imagen
de todo lo que fui.
Ahora deseo que me amase tanto que dejara de amarme
y sus palabras fuesen nieve
que el sol de junio fundiese entre mis pechos‚
allí donde su aliento insiste en acallar
esta tristeza antigua que siempre me acompaña.

Chantal Maillard

 

 

Desejei, em tempos, que um poeta me amasse.

Agora seus poemas doem-me no corpo,
algo de mim que nele se reconhece até se quebrar a imagem
de tudo aquilo que eu fui.
Agora queria que me amasse tanto que deixasse de me amar
e suas palavras fossem neve
que o sol de Junho derretesse no meu peito,
ali onde seu hálito teima em aplacar
esta tristeza antiga que sempre me acompanha.


(Trad. A.M.)

 .