4.3.22

Mary Oliver (Eu preocupo-me)




EU PREOCUPO-ME

 


Eu preocupo-me basto:  se o jardim medra, os rios
correm na direcção certa, a terra gira
como Deus manda, e senão, o que é que
eu posso fazer?

Estava certo, estava errado, eles perdoam-me,
poderei eu fazer melhor?

Serei eu algum dia capaz de cantar, até os pardais
cantam, e eu sou, como hei-de dizer?
um caso perdido.

A minha visão está a desaparecer, ou é só imaginação minha,
vou ter reumatismo,
tétano, demência?

Por fim, vi que as preocupações não davam em nada,
e aí desisti. Peguei no meu corpinho
e cá vamos nós, pela manhã,
cantando.


Mary Oliver

(Trad. A.M.)

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