Eu defendia a
teoria alternativa da Ausência: o suicídio era dar importância demais àquilo
que se julgava ser, havia sempre safa naquele artigo do Código Civil, meu único
ganho do curso de Direito, que permitia que se fosse “ausente em parte incerta
ou desconhecida sem se saber se é vivo ou morto”.
Decidimos,
em todo o caso, que se algum de nósalguma vez precisasse, o outro ia de táxi.
Felizmente
que no dia seguinte, sem ter participado na nossa conversa, o Sebag se
suicidou, sentado no chão, de baraço ao pescoço e a outra ponta amarrada à
perna de uma mesa, a puxar com o rabo e arrastando a mesa atrás: aliviou a
atmosfera e deu para rirmos todos muito.
Só o João
Vieira não achou graça, era no atelier
que ainda partilhava com os outros futuros KWY em cima do Gelo e a mesa tinha
as bisnagas das tintas que começaram a cair.
Sacudiu
severamente o Sebag, tirou-lhe o baraço do pescoço, e o Sebag abraçou-o, muito
grato, chamando-lhe pai.
Sempre dá jeito
ter pai.
- HELDER
MACEDO, Partes de África (12.), Edit.
Presença, 1991.