26.11.11
Aquilino Ribeiro (Ainda não nascera o dia)
Ainda não nascera o sol, mas já as gralhas cirandavam na orla dos giestais e a carriça se via pincharolando de parede para parede, furar pelos buraquinhos, lesta e farfalhuda.
Começava a erguer a poalha de lírios roxos que a noite deixava à terra, ao largar.
Corria a luz pelos caminhos e o açude do Cláudio, para lá da folha daquele ano, voltava para o céu a inflorescer o lume baço dos velhos espelhos de igreja.
Para trás do povo, descobria-se um bom trato do monte com coutos lambidos da canícula, barrocas de grande vão e pinhais solitários no jeito descabelado de avançar, subindo e descendo os cerros, uns para os outros em arremetida de guerra.
Mais longe interpunha-se a névoa, incerta em poisar, oscilando das abas altas da Póvoa aos penedais torvos de Aris.
Mas era para banda de sul – quintais, seara e rio – que o luaceiro da manhã esplendia.
A campina desnudava-se, e toda a tristeza outonal parecia escorrer da serra da Estrela, lá atrás muito taciturna e dolente como se rezasse ao céu.
- AQUILINO RIBEIRO, Terras do Demo, 2.ª parte, VII.
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